22 de jan. de 2010

Haiti

Antes de mais nada é preciso aqui registrar um elogio ao governo dos Estados Unidos. Seja qual for o assunto, e seja qual for o interesse que defendem, agem com seriedade.


No Brasil se está a discutir a revogação da lei da anistia, apenas para afagar o ego de alguns participantes do PT. Os principais noticiários veiculados na rede de computadores dão destaque ao BBB e SPFW. No meio disso tudo, ainda há uma ação da Polícia Federal onde se descobriu que a empreiteira Camargo Corrêa pagou propina ao PMDB e ao PT (Lula certamente nada sabe), referente à construção de eclusa na Barragem do Tucuruí (Pará). A proprina estaria ligada ao grupo de José Sarney (mais do mesmo) e ao Ministério das Minas e Energia.


Enquanto isso, nos Estados Unidos já se votou uma lei que abate do imposto de renda dos cidadão as doações feitas ao Haiti. Além disso, o governo americano preparou tendas para receber os haitianos em Guantánamo, Cuba (antes local de torturas).


Claro que preparar-se para receber refugiados em Guantánamo não é uma medida inocente. Os Estados Unidos, com a medida, também resguardam os próprios interesses. Além de prestar auxílio aos necessitados, serão levados para Guantánamo aqueles haitianos que tentarem, por mar, chegar à costa americana e lá adentrar como imigrantes ilegais.


Outra medida americana demonstra o quanto o País vela por si mesmo. Na primeira oportunidade, miliateres americanos ocuparam o principal aeroporto do Haiti, localizado em Porto Príncipe. Além de lhes propiciar o controle aéreo, também lhes propiciou um vantagem estratégica quanto à localização dos locais mais atingidos e ocupação dos principais pontos da cidade.


No futuro, isso representará controle da segurança sobre o Haiti, até que dito controle seja "gentilmente" restituído ao governo haitiano (provavelmente eleito segundo os interesses americanos). Como também representará maior acesso a empresas americanas, quando for iniciada a reconstrução de Porto Príncipe.


É evidente que não se está a pregar uma concorrência Brasil-Estados Unidos. Mas, quem sabe, devessemos nós aprender um pouco.

20 de jan. de 2010

Consumismo

Seria o consumismo uma preocupação legítima e moral? Benjamin R. Barber (Consumido. trad. Bruno Casotti. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 14) escreveu:


"Quanto devemos preocupar-nos? Numa época em que o terrorismo espreita o planeta, em que o medo do 'jihad' se espalha tanto quanto a violação das liberdades gerada por esse medo, em que a AIDS e tsunamis e guerras e genocídios põem a democracia em risco tanto nos países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento, pode parecer frivolidade preocupar-se com os perigos do hiperconsumo. Quando crianças pobres no mundo em desenvolvimento estão sendo exploradas, submetidas a fome, prostituídas e obrigadas a realizar serviços militares, a preocupação de que os jovens prósperos do mundo desenvolvido possam estar se tornando consumidores rapidamente demais, ou de que os consumidores adultos estejam se estupidificando muito facilmente, pode parecer de âmbito restrito, e até mesmo solipsista."


As comparações podem, em princípio, conduzir a uma resposta negativa. Talvez até mesmo a um mal estar. Entretanto, penso que a resposta deve ser a de considerar o consumismo um problema. Um sério problema.


Não só pelo fato de infantilizar jovens e adultos. Isso se trata de uma consequência do consumismo. O que preocupa é o sistema que sustenta o mercado de consumo. Esse sistema, através de exploração de recursos e mão-de-obra de países menos desenvolvidos, gera desigualdade social, desloca populações inteiras dos locais onde viveram por gerações. Gera poluição.


As consequências do consumismo não atingem apenas aos consumidores, mas o planeta todo. Por isso, se trata de um problema sério a ser estudado, entendido e corrigido.


Se o planeta puder esperar...

19 de jan. de 2010

Fala, Atleticano

Texto novo no Fala. Aqui.

12 de jan. de 2010

Hora do Planeta 2010

No próximo dia 27/03/2010 acontecerá a HORA DO PLANETA.


Se trata de uma campanha global, organizada pela World Wildlife Fund. (http://www.wwf.org/ ou http://www.wwf.org.br/), em prol da conscientização das pessoas acerca do aquecimento global.


Entre 20:30 e 21:30 as luzes das casas, empresas, prédios (privados e públicos) e monumentos públicos serão apagadas. Um ato simbólico que representa a preocupação com o meio-ambiente.


Mostre que você também preocupa-se com o mundo que deixará para as futuras gerações.


Faça campanha. Cobre dos seus governantes a mobilização. Cobre do seu chefe. Se você é o chefe, tome a iniciativa.


O planeta agradece.

11 de jan. de 2010

Atos Nobres (?)

Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, em certa passagem da obra "Vida para Consumo" (Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008), faz uma observação assustadora, mas verdadeira. Deixou anotado (p. 66):


"A sociedade de consumidores desenvolveu, a um grau sem precedentes, a capacidade de absorver toda e qualquer discordância que ela mesma, ao lado de outros tipos de sociedade, inevitavelmente produz - e então reciclá-la como fonte importante de sua própria reprodução, revigoramento e expansão. Ela extrai seu ânimo e seu ímpeto da deslealdade que ela própria produz com perícia. Fornece um excelente exemplo de um processo que Thomas Mathiesen recentemente descreveu como 'silenciamento silencioso' - isto é, que 'as atitudes e ações que são, em sua origem, transcendentes' - que ameaçam explodir ou implodir o sistema - 'são integradas à ordem existente de maneira que os interesses dominantes continuem sendo atendidos. Dessa forma, elas deixam de ameaçar essa ordem.' Eu acrescentaria o seguinte: são convertidas em uma das grandes fontes de reforço e reprodução contínua dessa mesma ordem."


Em palavras mais simples, diz o Autor que mesmo os atos mais "nobres", ou as atitudes "revolucionárias" são logo considerados normais. Mais grave, pois aceitar como normal algo "revolucionário" apenas refletiria indiferença. A sociedade absorve para si o ímpeto transformador, o incorporando no próprio sistema.


Assim acontece, por exemplo, com as organizações não governamentais que atuam em defesa do meio-ambiente. Lutam contra o descarte de plástico nas ruas, rios e oceanos. E, ao mesmo tempo, disponibilizam para venda, em suas lojas físicas e virtuais, produtos plásticos, descartáveis, no mais das vezes.


A hipótese pode ser imaginada em escala exponencial. O mesmo argumento utilizado para pregar o desarmamento de outros povos, serve para justificar a fabricação de armas para defesa.


Mais grave. Sendo a atitude "revolucionária" absorvida pela sociedade ela é logo esquecida. Já parou para pensar quantas boas causas foram abraçadas durante a vida (e para a vida toda), sendo esquecidas por outra boa causa da moda, no mês seguinte?


Estaremos, nós no caminho?