31 de mai. de 2005

Amazônia

Um dos editoriais do New York Times, publicado hoje, 31/05/05, trata da Amozônia. Ou Amazon, como a chamam os estado-unidenses.

O editor aponta o fato de que, nos últimos doze meses, foram desmatadas 10.000 milhas quadradas de floresta, que equivalem a, aproximadamente 14.000 quilômetros quadrados (a conversão não foi feita pelo editor do jornal, mas pelo editor do blogue). Afirma, ainda, que esta foi a maior devastação desde 1995. Naquele ano foram desmatadas 11.000 milhas quadradas de floresta, que equivalem a, aproximadamente, 15.400 quilômetros quadrados (esta conversão também não foi feito pelo editor do jornal). Ou seja, é terra que não acaba mais.

Um quilômetro quadrado equivale a espaço ocupado por cem quadras, de cem metros quadrados cada (descontado o espaço das ruas entre elas). Considerando que uma quadra equivale, aproximadamente, ao tamanho de um campo de futebol, fácil concluir que, no espaço de floresta desmatada nos últimos doze meses, é possível construir 1.400.000 campos de futebol.

Os empresários futebolísticos devem estar bem contentes, afinal, a proporção de venda de jogadores para a Europa é idêntica à proporção de crianças peladeiras "descobertas" por olheiros.

Além de apresentar o tamanho da área desmatada, o editorial afirma existirem fotografias do desmatamento. Feitas por satélite, claro. Com certeza estão lá nos registros da NASA, da CIA, do FBI, do Pentágono, do Executivo estado-unidense e, como não, nos arquivos do New York Times. Afinal, como Jorge Kajuru, o New York Times só faz denúncia devidamente documentada. Nosso Presidente, acusado levianamente de gostar de uma birita que o diga.

Afora apresentar dados e justificar a forma como foram colhidos, o editorial também afirma que o governo federal (o brasileiro, não o estado-unidense) naquela região, têm menos poder que alguns grupos políticos. Sugere que esta falta de poder, tanto quanto a ausência de polícia e fiscalização para fazer cumprir a lei, é um dos motivos pelas mortes de Chico Mendes e de Dorothy Stang (a freira estado-unidense). E também é um dos motivos do desmatamento (afinal, este é o assunto abordado pelo editorial).

Por fim, o editorial ataca Blairo Maggi, governador de Mato Grosso, e afirma que a Amazônia não pode servir de commodity a ser explorado por particulares. Blairo Maggi (isso também está no editorial) é o chamado "rei da soja", ou seja, o maior produtor (pessoa física) de soja do Brasil.

Claro que não esquece de dizer que a Amazônia é uma fonte de biodiversidade, e de remédios (com vários, inclusive, já patenteados pela indústria estado-unidense, mas isso o editorial não conta). E também afirma que a floresta é responsável pelo controle do aquecimento global (aquele provocado pelo pessoal contrário ao Tratado de Kioto e tantos outros tratados de proteção ao meio-ambiente).

Não que o editor não tenha razão. Tudo o que consta no editorial provavelmente é verdade. Mas, vindo de quem vêm, apesar de ser verdade, é inaceitável. Os motivos já são de suficiente conhecimento público.

Portanto, vindo de quem vem, só posso desejar uma coisa: este editor que enfie toda a tiragem do New York Times.

24 de mai. de 2005

Português

Não. Este texto não se trata de uma piada de português. Muito embora uma piada, com toda certeza, seria bem mais interessante que qualquer escrito meu.

Piada é cultura popular. Nunca se sabe quem dela é mentor intelectual. Aliás, o termo "mentor intelectual" não é designação segura de um autor de piadas. Piada, segundo o bom e velho Dicionário Aurélio é: [...] 3. Dito engraçado e espirituoso; pilhéria, chiste. 4. Chalaça picante. 5. Picuinha. 6. Conversa fiada; lorota. Já chalaça, segundo o que encontrei no mesmo Aurélio, é: 1. Dito zombeteiro. 2. Gracejo de mau gosto, ou insolente; graçola, chocarrice. 3. Caçoada, troça, zombaria. Não vou continuar com isso, tentando descobrir o que vem a ser chocarrice. Perderia o dia inteiro em indas e vindas no dicionário. Na metade do serviço estarei espirrando.

As definições que os dicionários apresentam são interessantes. Piada, pode ser, então, chalaça picante. E chalaça, por sua vez, é um gracejo de mau gosto ou insolente. Ou seja, piada, segundo o Auréio, é um gracejo insolente picante. Haja palavrão para adequar a piada ao conceito.

Voltando às piadas e a seu mentor intelecutual: inventor de piada não é, a sério, um verdadeiro "mentor intelectual". Pode até ser um "gozador intelectual". Ou então um "besteirento intelectual". Mas normalmente o cidadão que inventa piada o faz tomando uma birita, no meio de uma paquera, enquanto tenta impressionar alguém do sexo oposto (não necessariamente). Ou então o faz em rodas de amigos. Nem precisa tomar birita, pois roda de amigos serve para relato de causos e piadas. Diferente do que ocorre em rodas de amigas. Deixa prá lá esta coisa de diferença comportamental sexual, quando machos ou fêmeas andam em bando. Também este não é assunto deste texto.

Voltando novamente às piadas. Pode ser que o mentor intelectual seja inteligente. Mas inteligência não é requisito para se inventar piada. Aliás, se uma piada for elaborada por um intelectual (no sentido de cientista) provavelmente será sem graça. Piada boa é aquela criada em meio à alegria, ainda que seja a alegria de afogar as mágoas, acompanhado de Baco. Cria-se a piada da própria desgraça, e dela se ri. Brasileiro, aliás, é campeão em rir da própria desgraça - enquanto o governo ri de nossa desgraça. Pergunto: quem é que não conhece piada do dedo faltante do Lula? Ou do bigode do Sarney? Ou do nariz do Fernando Collor? Não é a alegria, afinal, a melhor forma de encarar a vida?

Este texto não se trata de uma piada de português. E também não deveria ser um texto sobre piadas, mas raramente consigo manter a concentração em apenas um assunto. Saiu assim, que assim seja. Ficam para a próxima as meledicências sobre aqueles que maltratam a língua escrita. Este, afinal, deveria ser o texto sobre português.
Por falar nisso, conhece aquela do Joaquim?

16 de mai. de 2005

Passeatas

Sentado numa mesa gigantesca, fazia prova de espanhol. Se tratou da primeira etapa de um teste seletivo de pós-graduação.

Os candidatos foram dispostos frente a frente, numa mesa quadrada enorme. A serventia do móvel, certamente está ligada às aulas ministradas naquela sala. Mas a mesa é realmente grande. Estava sentado no canto da mesa, perto da porta. Afora as entradas e saídas dos Professores Bancas, nada atrapalhava a realização da prova. O silêncio reinava absoluto. Era possível ouvir passarinhos cantando e o burburinho dos estudantes da universidade.

"PREFEITO SAFADO! PREFEITO SAFADO!"

Após recuperar-me do susto, amaldiçoei até a quarta geração do cidadão que gritava a plenos pulmões no microfone. Não fazia a mínima idéia do motivo da manifestação até ler o jornal, no sábado. Naquele momento, entretanto, tentava pensar na prova de espanhol.

"ABAIXO O PREFEITO!"

Após certo tempo, o povão começou a acompanhar aquele e outros gritos de ordem. Tinha um que rimava, mas não é possível lembrar.

A coisa continuava cada vez mais alta, impedindo os candidatos de manter nível de concentração aceitável para realização da prova. Indaguei à Professora Banca:
"- Se o problema é com o prefeito, por que não vão gritar na frente da Prefeitura?"
"- Tudo acontece aqui." Respondeu um dos candidatos.

Não pisava na cidade fazia meses. Nem para passear, nem para estudar. E logo quando resolvo fazer teste eliminatório, surge passeata exatamente embaixo da janela da sala. Só pude terminar a prova quando a massa reivindicante se pôs a marchar pelo centro da cidade.

Para que, afinal, servem as passeatas de hoje em dia? Servidores públicos que reivindicavam aumento imediado de salário. E para isso abandonaram o serviço em plena manhã de sexta-feira. Os alunos de rede pública de ensino foram dispensados. O atendimento da população foi relegado para segunda-feira. Apenas os postos de saúde, segundo os jornais, mantiveram-se abertos.

Por que ninguém faz passeata em finais-de-semana? A resposta de que o prefeito não estar na Prefeitura é inadmissível. É óbvio que pelo menos um dos participantes do movimento sabe onde o prefeito mora. Garanto que o efeito da reivindicação será imediato, caso o prefeito seja impedido de continuar o sono sagrado de domingo. E o serviço público não será prejudicado.

11 de mai. de 2005

Diálogos Insanos

Por essas e outras é que continuo acreditando em amor de mãe.

Durante uma longa e cansativa jornada pela estrada, perto da meia-noite, mãe e filho de cinco anos dormiam no banco traseiro.

- Mãe...

- Mãããããe...

- Hã?!? Hum!?! Que é que foi, moleque?

- Elefante vôa?

- Não.

...

- Mãããããe...

- Hã?!?

- E barata?

- Que é que tem a barata?

- Por que barata vôa?

- Tira o pé da minha bunda e deixa eu dormir.

- Mas...

...

- Mãããããe... camelo vôa?

Plaft!

A paz e o silêncio voltam a reinar absolutos. Lá fora, só o som dos pneus no asfalto.

Estréia

Isto é apenas uma estréia.
Testando...
Um, dois, três...
Som....
Um, dois três...