6 de jan. de 2009

Portas Giratórias

Já andava a pensar sobre as portas giratórias instaladas em bancos e cooperativas de crédito. Sempre as achei uma afronta ao cidadão. Uma violação de privacidade. Um método de intimidação que nos classifica a todos, como potenciais marginais.


Um simples detector de metais não resolve o problema? Não o serve para os aeroportos? O 11/09 provou que estes, os aeroportos, mantêm em operação equipamentos capazes de gerar danos maiores que aqueles resultantes de assaltos a bancos. Mesmo assim, bastam-lhes os detectores de metais.


Agora, lendo a obra "Manual de Pintura e Caligrafia" (São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 28), de José Saramago, descubro um trecho que descreve as portas giratórias. Mais que isso, consegue descrever o que sempre senti, mas não sabia o que era: a agonia de passar por estas portas. Temor em ser retido, comprimido entre duas placas acrílicas, tendo que dar marcha a ré. E depois, frente olhares entre acusadores e reprovadores, me despir de pertences pessoais, exibindo-os ao público, e novamenve tentar e entrada.



Escreveu Saramago:


"SPQR tem ainda uma daquelas portas giratórias que são para mim a versão burguesa do pano de rocha que era a entrada da caverna dos quarenta ladrões. Não tem nome de sésamo (gergelim, planta) e representa a suprema contradição em porta: está, simultaneamente, sempre aberta e sempre fechada. É a glote do gigante, engolindo e expulsando, ingerindo e vomitando. Há temor quando se entra, alívio quando se sai. E há uma repentina angústia quando no meio do movimento já não estamos fora e ainda não estamos dentro: viajamos no interior de um cilindro como se atravessássemos uma parede de ar e esse ar fosse pastoso como a lama num poço ou rígido e comprimido como a base de um obelísco. Houve certamente sufocações na minha infância, figuras monstruosas ou apenas negras (brancas, diria um negro) sentadas no meu coração, para que este tambor rebrilhante invoque terrores tão primitivos. Sair, neste caso, é realmente surdir, emergir, ou irromper do elemento denso para o ar transparante e respirável."