25 de jan. de 2006

Reajustes

Em artigo publicado na Folha de São Paulo, o ex-ministro Antonio Delfin Netto, que à sua época discursou sobre a divisão do bolo, afirmou categoricamente que o controle da inflação beneficiará o governo, que pretende reeleger-se (muito embora Lula, que nunca se preocupa em apurar os ouvidos moucos, ainda não conheça a pretensão).

Do bolo de Delfin, que precisava crescer, sobrou a inflação. E o povo, este ente que aí está para ser lembrado em época de eleições, e ser relegado a atrapalho administrativo em períodos pós-posse, jamais viu fatia ou cereja do confeito. Sequer a uma pirracenta passada de dedo teve direito.

Da inflação, ainda que por caminhos outros, não seguidos por Delfin, dizem que, tal qual o bolo, sumiu. Estranho que as bombas de gasolina não tenham sido informadas. Estranho, também, que numa anunciada pequeníssima inflação de última década, todos os gêneros alimentícios tenham sofrido reajuste superior a cem por cento.

Aliás, os mais atentos já perceberam que o cálculo inflacionário jamais leva em conta preços reajustados. Se sobe a farinha, a culpa é do mercado chinês, e o índice inflacionário desconsidera o reajuste, para o cálculo da inflação. Se sobe a gasolina, se aponta os sempre maquiavélicos shieques do petróleo, e lá vão os matemáticos e estatísticos governamentais excluir a gasolina do cálculo. Seria bom poder, na hora de pagar a conta, desconsiderar o reajuste:

- Veja bem, seu frentista. Vou pagar a gasolina no preço velho, porque este reajuste não está computado para o cálculo inflacionário, e nem foi computado em meu cálculo de despesas mensais.

Afinal, se não há inflação, por quê gastar mais que o mês passado, adquirindo exatamente os mesmos produtos? A ver qual será a resposta do governo, em relação ao aumento do álcool, sapiente de que grande parte da base aliada, que ajudará o etílico presidente na campanha, possui usinas, ou possui compadres usineiros.

Quando o presidente voltar à vida civil, e for obrigado a pagar mais caro pela cachaça, certamente arrepender-se-á de não ter tomado as devidas medidas, para regular o setor de produção de álcool.

Economia estável, a tem o governo, sustentado pela população. Instável, entretanto, anda o bolso do contribuinte, que já não aguentando mais tucanadas e a carga tributária, votou na mudança, e agora paga o preço da burrice.

De esperar que o anunciado e, como astro de cinema, maquiado controle da inflação, não iluda, mais uma vez o cidadão votante. Portanto, antes de decidir-se, dê uma olhada, se ainda os têm, em seus canhotos de mercado de um ou dois anos atrás. Verás que a inflação não existe em Brasília, mas por outras paragens a moça, como a de Ipanema, anda solta e cheia de graça. Pena que não seja linda, e que não esteja a caminho do mar.

20 de jan. de 2006

Ao Vivo

O primeiro texto de 2006 não tratará de política. Não se tome, o texto abaixo, como promessa de abandono das notícias do Distrito Federal. Foi escrito apenas porque é interessante.

Sexo é, sem dúvida, uma das atividades mais prazerosas da vida. Muito embora alguns discordem, é impossível negar que esta é a opinião corrente de, pelo menos oito décimos da humanidade.

A atividade desenvolvida tem sido praticada ao longo de toda a existência da humanidade. Arrisca-se dizer que tem sido praticada com afinco e dedicação, a considerar que os números populacionais aumentam, ano a ano.

Entretanto, algumas pessoas levam a atividade a extremos não tão corriqueiros, para a maioria das pessoas.

Enquanto a maioria prefere sexo entre quatro paredes, ora na penumbra, para esconder alguns ângulos que se pretende fazer não notados, ora no claro, para que se encontre locais de difícil acesso, alguns arriscam o sexo em público.

Não que se trate de algo comum. Nunca flagrei um casal em pleno ato, num elevador, num banheiro de local com acesso ao público, numa escada de incêndio ou mesmo dentro de um carro.

Mesmo o sexo em público aparenta ter restrições. Exceção feita a filmes pronográficos, haja vista que o texto presente trata de pessoas comuns, não de atores, é possível perceber que não há prática de sexo em público em locais muito frequentadados. Mesmo quem pratica a modalidade, escolhe locais calmos e desertos de pessoas.

Também devem existir restrições sonoras. O sexo em público não permite gemidos e gritos altos. Não deve permitir palavrões ou conversas picantes. A não ser sussurros no ouvido do (a) parceiro (a).

Certamente o sexo em público também não permite que se chegue ao nú completo. Alguns botões e zíperes abertos e roupas íntimas (se usadas) esticadas são o máximo que se permite.

Além disso, por certo não há tempo para grandes performances, escolha de posições do kama-sutra e local confortável. Os praticantes devem adaptar-se às condições que o local escolhido oferece. Ninguém praticará sexo no espinheiro ou atrás de uma moita de urtiga, sobre um portão com pontas afiadas, sobre o fogão acesso ou deitado próximo a um formigueiro. O resultado disso é sexo sem resultado, ou satisfação, ou orgasmo, escolha cada um o termo que lhe apetece, que não se está a tratar de qualidade, mas de modalidade.

Fica, portanto, a pergunta: se não há tempo e conforto; se não é possível a nudez; se é necessário muito silêncio; e se é necessáio contorcionismo, qual é a vantagem de praticar sexo em local público?