11 de jan. de 2010

Atos Nobres (?)

Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, em certa passagem da obra "Vida para Consumo" (Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008), faz uma observação assustadora, mas verdadeira. Deixou anotado (p. 66):


"A sociedade de consumidores desenvolveu, a um grau sem precedentes, a capacidade de absorver toda e qualquer discordância que ela mesma, ao lado de outros tipos de sociedade, inevitavelmente produz - e então reciclá-la como fonte importante de sua própria reprodução, revigoramento e expansão. Ela extrai seu ânimo e seu ímpeto da deslealdade que ela própria produz com perícia. Fornece um excelente exemplo de um processo que Thomas Mathiesen recentemente descreveu como 'silenciamento silencioso' - isto é, que 'as atitudes e ações que são, em sua origem, transcendentes' - que ameaçam explodir ou implodir o sistema - 'são integradas à ordem existente de maneira que os interesses dominantes continuem sendo atendidos. Dessa forma, elas deixam de ameaçar essa ordem.' Eu acrescentaria o seguinte: são convertidas em uma das grandes fontes de reforço e reprodução contínua dessa mesma ordem."


Em palavras mais simples, diz o Autor que mesmo os atos mais "nobres", ou as atitudes "revolucionárias" são logo considerados normais. Mais grave, pois aceitar como normal algo "revolucionário" apenas refletiria indiferença. A sociedade absorve para si o ímpeto transformador, o incorporando no próprio sistema.


Assim acontece, por exemplo, com as organizações não governamentais que atuam em defesa do meio-ambiente. Lutam contra o descarte de plástico nas ruas, rios e oceanos. E, ao mesmo tempo, disponibilizam para venda, em suas lojas físicas e virtuais, produtos plásticos, descartáveis, no mais das vezes.


A hipótese pode ser imaginada em escala exponencial. O mesmo argumento utilizado para pregar o desarmamento de outros povos, serve para justificar a fabricação de armas para defesa.


Mais grave. Sendo a atitude "revolucionária" absorvida pela sociedade ela é logo esquecida. Já parou para pensar quantas boas causas foram abraçadas durante a vida (e para a vida toda), sendo esquecidas por outra boa causa da moda, no mês seguinte?


Estaremos, nós no caminho?

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