24 de nov. de 2010

A Gula Republicana

Texto de Luiz Felipe Pondé, publicado no dia 02.08.2010, na Folha de São Paulo. Merece a leitura.



A GULA REPUBLICANA


Luiz Felipe Pondé


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No século 20, o novo totalitarismo está associado à inflação da ideia de "bem público"


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Ela provavelmente estudou serviço social ou direito. Ele, psicologia ou pedagogia ou mesmo ciências sociais. Ambos têm certeza de que devem "melhorar o mundo" através da criação de leis ou políticas públicas. Querem criar o cidadão ideal. O que é isso? Sei lá, alguém que vá ao banheiro com consciência social? Conhece alguém assim? Eles estão em toda parte, como uma praga querendo domar a vida a qualquer custo. E vão mandar em você logo.


Não se trata de uma questão apenas para alguém que tem simpatias por formas de vida menos controlada, como eu. Alguém que fuma charutos cubanos e acha que terapia de shopping faz bem mesmo (quem diz o contrário é mentiroso ou não tem dinheiro). Eu sei que o efeito dessas terapias passa rápido, mas, afinal, o que passa rápido mesmo é a vida.


O controle legal da vida, grosso modo, separa dois modos de ver a política desde o século 18. Um primeiro modo, "mais" britânico, tende a ser mais cauteloso em relação às formas políticas e legais de controle da vida moral (hábitos e costumes). Outro, mais descendente da revolução francesa, tende a babar de tesão só em pensar no controle dos hábitos e dos costumes, devastando a diversidade moral do mundo, como na proibição do véu islâmico na França.


No Brasil, temos um déficit sério em nossa formação. Quase todo mundo só conhece os franceses utópicos ou os alemães hegelianos (todos jacobinos de espírito), o que empobrece o debate público. Essa pobreza não se limita ao senso comum, mas, desgraçadamente, atinge a própria academia que repete cegamente a liturgia da gula republicana: controlemos a vida em nome de uma vida perfeita.


Mas o que é a gula republicana? A democracia republicana tende a devorar o espaço moral. Ela o faz porque vê o espaço moral como matéria da "coisa pública" e, por isso, assume os hábitos e costumes das pessoas como devendo ser, por natureza, objeto sob seu controle. É marca da democracia republicana o "poder minutal" (dizia Tocqueville, francês que pensava como britânico): sua natureza é buscar controlar os detalhes da vida.


Quais detalhes? Legislar afetos, hábitos, sentidos, sexo, relações parentais íntimas, comida, escolas, memória, nada escapa da gula republicana e seu clero. Leis que querem fazer de pais e filhos delatores uns dos outros, de amantes representantes do "sindicato dos gêneros". Erra quem ainda associa o fenômeno totalitário às formas clássicas do fascismo do século 20, o novo totalitarismo está associado à inflação da ideia de "bem público".


Se você der uma palmadinha no filho, o Estado te pega! Quem vai denunciar? Que tal ensinar às crianças nas escolas alguns métodos de denúncia? A família já vai mal mesmo.


Onde estaria a fronteira desta inflação da noção de "bem público"? Vamos ver... ah, já sei: não existe fronteira! Quer ver? Imagine só: está proibido rezar antes de jantar em nome da liberdade religiosa das crianças, está proibido contar historinhas paras as crianças sem antes uma análise prévia por especialistas da questão da violência de gênero, pais que não tiverem o certificado de "alimentação zero gordura e zero açúcar" pagarão multa.


Dirá o leitor ingênuo: mas a opinião pública é contra a lei das palmadinhas. Sinto muito: a opinião pública é uma "vadia". Hoje ela diz "não", amanhã ela dirá "sim", tudo depende do que for repetido cem vezes. A democracia sofre com esse mal: sua natureza tende fatalmente para a mentira, para a retórica, para a superficialidade.


Para preservar a democracia de seu viés tirânico (a gula republicana), temos que "defender" a família e suas mazelas em seu espaço (in)feliz, deixar que o manto sombrio da incerteza cubra parte de nosso cotidiano porque, o que preserva a liberdade, não é o consenso acerca do que sejam os "bens morais", mas a sombra que os cerca.


Para preservarmos esta "sombra", é necessário opções à tendência hegemônica no Brasil hoje, que é autoritária. Veja as "opções presidenciáveis". Todos são do clero jacobino de alguma forma. Todos veem a política como "curadora" das almas. Socorro!

8 de set. de 2010

Dilma?

Já é hora de desvendar o jogo sujo do PT. Lula e Dilma (ou Patricia, ou Vanda, ou Estela, ou Luiza, nomes usados por Dilma na época de luta armada, ou terrorismo) alinham-se ao pior da política brasileira.


É possível, dentre outros nomes, lembrar rapidamente dos capitães do mensalão, os Zés Dirceu e Genoíno, do dono do Maranhão José Sarney, do caçador de marajás Fernando Collor de Mello, do garanhão das prostitutas Renan Calheiros, afora os não políticos, como Marcos Valério (o do valérioduto) e o filho de Lula (Sandro Lula da Silva, o Lulinha), aquele que comprou a fazenda com o dinheiro que ganhou trabalhando como auxiliar de departamento do Zoológico de São Paulo.


Toda essa corja de ladrões estará junto a Dilma, caso venha a ser eleita.


A grande questão a responder, entretanto, não é se Dilma será ou não eleita. A questão é, através de que método pauta-se a campanha de Dilma e o próprio governo do PT?


A primeira e mais importante regra, é proteger a figura de Lula, o bêbado. Lula deve ser visto pela população, principalmente a mais carente e ignorante, como o novo messias, como o salvador. Nenhum resquício de todas as maracutaias, desvios e roubalheira devem recair sobre ele. Por isso Lula nunca sabe de nada.


A segunda regra, é livrar o partido de todos aqueles que são pegos. Assim ocorreu com Delúbio Soares. Em situações limite, é usada a força, como no caso de Celso Daniel.


A terceira regra, é o uso constante do discurso do inimigo. O País deve estar sob constante ameaça de inimigos, preferentemente inimigos "ocultos", já que assim, sem serem identificados, podem continuar sendo inimigos. A tática não é nova, nem é exclusiva da "esquerda". George W. Bush, tão combatido pelos adeptos das teorias marxistas, usou o mesmo subterfúgio, referentemente aos terroristas.


E, por fim, a quarta regra, é atribuir um ar de normalidade à maracutaia. É transformá-la em algo corriqueiro e aceitável, quando praticada pelo "partido" e aliados, bem como demonizá-la, quando praticada pelos "oposicionistas".


Para não ir longe, é possível citar o companheiro de Lula e Dilma, Hugo Chaves, que faz a mesma coisa na vizinha Venezuela. E, pra ir um pouco longe, na história e geograficamente, é possível citar o camarada e "generalíssimo" Josef Stalin, na antiga e comunista URSS. E, obviamente, não se pode deixar de fora o líder da revolução Fidel Castro, que transformou Cuba n'uma ilha de atraso e prostitutas. Um lugar que os intelectualóides de esquerda sonham visitar, e de onde todos os cubanos tentam fugir (quem será que está com a razão?).


É preciso romper a polarização eleitoral criada por Lula e Dilma. As comparações com o passado governo de Fernando Henrique Cardoso são inválidas. Até porque os candidatos não são, nem Lula, nem FHC. São Dilma e José Serra.


Nenhum dos dois representa o pensamento dos respectivos antecessores. Serra não é FHC, nem repete as idéias neoliberais de FCH. E Dilma não é Lula, e nem repete as idéias de Lula (se alguém souber dizer quais são, agradeço).


O risco que o Brasil corre, de pagar o preço de eleger uma ditadora esquerdista certamente será mais alto, muito mais alto, que ter ficado sob o jugo de vinte e um anos de ditadura militar direitista.


É preciso saber quem é Dilma, pois é ela quem receberá votos. Nessa eleição, antes de votar, não esqueça que não se está a votar em Lula, mas sim n'uma terrorista que não tem escrúpulos, nem mede esforços para chegar onde quer, e lá se manter.






13 de jul. de 2010

Miséria

Palavras de Dostoiévski, postas na boca do personagem Marmieládov, logo no início do romance "Crime e castigo" (Trad. Natália Nunes e Oscar Mendes. Porto Alegre: L&PM, 2008. p. 23):



"- Meu senhor - começou quase com solenidade - a pobreza não é um pecado. Essa é a verdade. Sei também que a embriguez não é nenhuma virtude. Mas a miséria, meu senhor, a miséria... essa sim, essa é pecado. Na pobreza ainda se conserva a nobreza dos sentimentos inatos; na miséria não há nem nunca houve alguém que os conserve. A um homem na miséria quase que o correm à paulada; afungentam-no a vassouradas da companhia dos seus semelhantes para que a ofensa seja ainda maior; e é justo, porque na miséria sou eu o primeiro pronto a ofender a mim mesmo. Por isso bebo. Sim, senhor, há um mês que o senhor Liebiesiatnikov bateu na minha mulher, mas eu não sou a minha mulher! Está percebendo?"



Escrito no século XIX, parece que o livro fez previsão do destino daqueles que, hoje, estão excluídos da sociedade, vale dizer, aqueles que não consomem. Transformar-mo-nos todos em consumidores é o maior indicativo do final da cidadania.

12 de jul. de 2010

José Saramago

Até agora não consegui bem absorver o passamento de José Saramago (16.11.1922 - 18.06.2010).


Como bem definiu o jornal El País era "el escritor que nunca se escondió".


Firme eu suas posições e opiniões, suas obras fazem pensar. Pensar o bem, a justiça e o ser humano. Esse, sem dúvida, o maior legado de alguém que se importava, e que ensina a todos a escrever própria história. Como o próprio Saramago disse: "Na verdade, ninguém sabe para o que nasce. Nem as pessoas, nem os livros".

2 de jul. de 2010

Copa do Mundo (?)

Hoje limitar-me-ei a reproduzir palavras alheias, obtidas no blogue do Juca Kfouri (http://blogdojuca.uol.com.br)




A Copa Mercosul


Por Roberta Vieira



Quem diria?


A Copa do Mundo virou Copa do Mercosul.


Mercosul de veias abertas e futebol sem fronteiras.


Mercosul de Neruda, Galeano, Drummond e Borges.


Mercosul de Toro, Schiaffino, Pelé e Maradona.


Mercosul primeiro mundo no futebol.


Pois a miséria ainda habita seus grotões.


Pode ser que as semifinais não confirmem a nova geografia.


E daí?


Uma terra esquecida do mundo.


Lembrada apenas pela cana, por Potosí, pelo couro e pela subserviência.


Continua surpreendendo no maior espetáculo da Terra.


E por quê?


Antes que os arautos de uma nova ordem proclamem nossa grandeza.


Lembremos que os jogadores de futebol são pobres meninos de rua.


Com raras exceções.


Meninos que sonham tirar suas famílias da linha de pobreza.


Meninos que sonham com o trono em Madrid, Londres ou Paris.


Embora Moscou e Atenas também sirvam.


O futebol é território dos que nascem nos mocambos e vilas miseráveis.


Os garotos alemães e ingleses preferem outros brinquedos.


Os garotos suecos e dinamarqueses estudam de manhã e à tarde.


Antes de se proclamar que o Mercosul é bom de bola.


Entendam que o Mercosul é ruim de garfo e de vacina.


No dia em que o Mercosul for rico.


A Copa do Mundo muda de endereço.


Para tristeza de quem sonha com o Hexa.


E alegria de quem sonha simplesmente com justiça…

7 de jun. de 2010

Identidade

"Deveria isto bastar, dizer de alguém como se chama e esperar o resto da vida para saber quem é, se alguma vez o saberemos, pois ser não é ter sido, ter sido não é será [...]".


(SARAMAGO, José. Memorial do convento. 32. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. p. 100).


Uma boa definição da mutabilidade da(s) identidade(s) em tempos pós-modernos. Mais precisa ser dito?

30 de mai. de 2010

A política de nossos tempos

Aproximando-se o tempo das campanhas eleitorais, sempre é bom lembrar George Orwell, que escreveu:


"Em nossa época, o discurso político é em sua maioria a defesa do indefensável... A linguagem política - e, com variações, isso é válido para todos os partidos políticos, de conservadores a anarquistas - é destinada a fazer mentiras soarem como verdades e o assassinato parecer respeitável, assim como dar uma aparência de solidez àquilo que é puro vento."


15 de mar. de 2010

Hora do Planeta

Não esqueça. Dia 27.03.2010, entre 20:30 e 21:30, tem a Hora do Planeta.



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22 de fev. de 2010

Kassab

O juiz da Primeira Zona Eleitoral de São Paulo, São Paulo, Aloísio Silveira, cassou o mandato de Gilberto Kassab. Fundamentou a sentença na existência de doações ilegais, recebidas na campanha para prefeito, em 2008.


As contas de campanha de 2008 de Kassab, entretanto, já foram consideradas boas pela própria Justiça Eleitoral. Ou seja, um juiz eleitoral julga contra a Justiça Eleitoral.


Claro que não se está, aqui, defendendo a "lisura" das doações recebidas por Kassab. Até porque tais doações são a vergonha das eleições, e todos os políticos as recebem. A depender do lado escolhido, os eleitos podem ficar em débito com bancos, empreiteiras, telefônicas, sindicatos ou outros movimentos "populares". Mas, no final, sempre é o povo que paga os favores.


A sentença de cassação da Gilberto Kassab é medida que serve apenas para bagunçar o coreto em tempos de eleições majoritárias. Tanto é verdade que o promotor que deu início ao processo, nada investigou. Valeu-se de reportagem veiculada pela Folha de São Paulo. Caso contrário, tudo passaria por "debaixo dos panos".


Já é hora de juízes e promotores deixarem de lado a vaidade e a vontade de aparecer na mídia, e começarem a trabalhar com seriedade. É para isso que são bem pagos. É hora, também, do Ministério Público e do Poder Judiciário pararem de se esconder e passarem a desempenhar o papel social para o qual existem.


Ninguém que passa fome, vive em favelas, morre em filas de hospitais ou utiliza vans e kombis porque o transporte público não os assiste, está preocupado com dita cassação. Ministério Público e Poder Judiciário devem fazer o sistema funcionar. Pois, a depender de executivo e legislativo, estaremos todos perdidos.


O circo, deixe-se para os detentores de cargos eletivos, que bom uso sabem fazer dele.

16 de fev. de 2010

Cordel e o BBB

Antonio Carlos de Oliveira Barreto lançou, em literatura de cordel, uma excelente crítica ao "Big Brother Brasil". Pode ser lida aqui nessa reportagem da Folha Online.


A vítima do Cordelista foi o programa da TV Globo. Mas outros, como "A Fazenda", "A Casa dos Artistas", etc., etc., etc., merecem o mesmo tratamento.

2 de fev. de 2010

Democracia

Não existe dúvida que a atual democracia, em verdade, serve apenas para justificar e mascarar os atos praticados pelo real poder. O poder econômico.


Nenhuma democracia do mundo resiste, hoje, a perguntas básicas:


1) Foi o povo que elegeu?


2) É o povo que o rege (ou é o povo que rege os atos daqueles a quem elegeu)?


3) Visa o bem do povo?


A essas perguntas, para o mal, apenas a primeira pode ser respondida afirmativamente. Para o mal porque, à toda evidência, o poder econômico é responsável por eleger. De se lembrar que não é o voto o único ato do processo eleitoral. Exatamente por ser processo, se compõe de uma série de atos. O voto é o último, mas não menos guiado pelo poder econômico que todos os atos anteriores.


Se democracia verdadeira existiu, quer parecer que é hora de buscar resgatá-la.

1 de fev. de 2010

Fala, Atleticano.

Texto novo publicado no Fala, Atleticano. Aqui.

22 de jan. de 2010

Haiti

Antes de mais nada é preciso aqui registrar um elogio ao governo dos Estados Unidos. Seja qual for o assunto, e seja qual for o interesse que defendem, agem com seriedade.


No Brasil se está a discutir a revogação da lei da anistia, apenas para afagar o ego de alguns participantes do PT. Os principais noticiários veiculados na rede de computadores dão destaque ao BBB e SPFW. No meio disso tudo, ainda há uma ação da Polícia Federal onde se descobriu que a empreiteira Camargo Corrêa pagou propina ao PMDB e ao PT (Lula certamente nada sabe), referente à construção de eclusa na Barragem do Tucuruí (Pará). A proprina estaria ligada ao grupo de José Sarney (mais do mesmo) e ao Ministério das Minas e Energia.


Enquanto isso, nos Estados Unidos já se votou uma lei que abate do imposto de renda dos cidadão as doações feitas ao Haiti. Além disso, o governo americano preparou tendas para receber os haitianos em Guantánamo, Cuba (antes local de torturas).


Claro que preparar-se para receber refugiados em Guantánamo não é uma medida inocente. Os Estados Unidos, com a medida, também resguardam os próprios interesses. Além de prestar auxílio aos necessitados, serão levados para Guantánamo aqueles haitianos que tentarem, por mar, chegar à costa americana e lá adentrar como imigrantes ilegais.


Outra medida americana demonstra o quanto o País vela por si mesmo. Na primeira oportunidade, miliateres americanos ocuparam o principal aeroporto do Haiti, localizado em Porto Príncipe. Além de lhes propiciar o controle aéreo, também lhes propiciou um vantagem estratégica quanto à localização dos locais mais atingidos e ocupação dos principais pontos da cidade.


No futuro, isso representará controle da segurança sobre o Haiti, até que dito controle seja "gentilmente" restituído ao governo haitiano (provavelmente eleito segundo os interesses americanos). Como também representará maior acesso a empresas americanas, quando for iniciada a reconstrução de Porto Príncipe.


É evidente que não se está a pregar uma concorrência Brasil-Estados Unidos. Mas, quem sabe, devessemos nós aprender um pouco.

20 de jan. de 2010

Consumismo

Seria o consumismo uma preocupação legítima e moral? Benjamin R. Barber (Consumido. trad. Bruno Casotti. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 14) escreveu:


"Quanto devemos preocupar-nos? Numa época em que o terrorismo espreita o planeta, em que o medo do 'jihad' se espalha tanto quanto a violação das liberdades gerada por esse medo, em que a AIDS e tsunamis e guerras e genocídios põem a democracia em risco tanto nos países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento, pode parecer frivolidade preocupar-se com os perigos do hiperconsumo. Quando crianças pobres no mundo em desenvolvimento estão sendo exploradas, submetidas a fome, prostituídas e obrigadas a realizar serviços militares, a preocupação de que os jovens prósperos do mundo desenvolvido possam estar se tornando consumidores rapidamente demais, ou de que os consumidores adultos estejam se estupidificando muito facilmente, pode parecer de âmbito restrito, e até mesmo solipsista."


As comparações podem, em princípio, conduzir a uma resposta negativa. Talvez até mesmo a um mal estar. Entretanto, penso que a resposta deve ser a de considerar o consumismo um problema. Um sério problema.


Não só pelo fato de infantilizar jovens e adultos. Isso se trata de uma consequência do consumismo. O que preocupa é o sistema que sustenta o mercado de consumo. Esse sistema, através de exploração de recursos e mão-de-obra de países menos desenvolvidos, gera desigualdade social, desloca populações inteiras dos locais onde viveram por gerações. Gera poluição.


As consequências do consumismo não atingem apenas aos consumidores, mas o planeta todo. Por isso, se trata de um problema sério a ser estudado, entendido e corrigido.


Se o planeta puder esperar...

19 de jan. de 2010

Fala, Atleticano

Texto novo no Fala. Aqui.

12 de jan. de 2010

Hora do Planeta 2010

No próximo dia 27/03/2010 acontecerá a HORA DO PLANETA.


Se trata de uma campanha global, organizada pela World Wildlife Fund. (http://www.wwf.org/ ou http://www.wwf.org.br/), em prol da conscientização das pessoas acerca do aquecimento global.


Entre 20:30 e 21:30 as luzes das casas, empresas, prédios (privados e públicos) e monumentos públicos serão apagadas. Um ato simbólico que representa a preocupação com o meio-ambiente.


Mostre que você também preocupa-se com o mundo que deixará para as futuras gerações.


Faça campanha. Cobre dos seus governantes a mobilização. Cobre do seu chefe. Se você é o chefe, tome a iniciativa.


O planeta agradece.

11 de jan. de 2010

Atos Nobres (?)

Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, em certa passagem da obra "Vida para Consumo" (Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008), faz uma observação assustadora, mas verdadeira. Deixou anotado (p. 66):


"A sociedade de consumidores desenvolveu, a um grau sem precedentes, a capacidade de absorver toda e qualquer discordância que ela mesma, ao lado de outros tipos de sociedade, inevitavelmente produz - e então reciclá-la como fonte importante de sua própria reprodução, revigoramento e expansão. Ela extrai seu ânimo e seu ímpeto da deslealdade que ela própria produz com perícia. Fornece um excelente exemplo de um processo que Thomas Mathiesen recentemente descreveu como 'silenciamento silencioso' - isto é, que 'as atitudes e ações que são, em sua origem, transcendentes' - que ameaçam explodir ou implodir o sistema - 'são integradas à ordem existente de maneira que os interesses dominantes continuem sendo atendidos. Dessa forma, elas deixam de ameaçar essa ordem.' Eu acrescentaria o seguinte: são convertidas em uma das grandes fontes de reforço e reprodução contínua dessa mesma ordem."


Em palavras mais simples, diz o Autor que mesmo os atos mais "nobres", ou as atitudes "revolucionárias" são logo considerados normais. Mais grave, pois aceitar como normal algo "revolucionário" apenas refletiria indiferença. A sociedade absorve para si o ímpeto transformador, o incorporando no próprio sistema.


Assim acontece, por exemplo, com as organizações não governamentais que atuam em defesa do meio-ambiente. Lutam contra o descarte de plástico nas ruas, rios e oceanos. E, ao mesmo tempo, disponibilizam para venda, em suas lojas físicas e virtuais, produtos plásticos, descartáveis, no mais das vezes.


A hipótese pode ser imaginada em escala exponencial. O mesmo argumento utilizado para pregar o desarmamento de outros povos, serve para justificar a fabricação de armas para defesa.


Mais grave. Sendo a atitude "revolucionária" absorvida pela sociedade ela é logo esquecida. Já parou para pensar quantas boas causas foram abraçadas durante a vida (e para a vida toda), sendo esquecidas por outra boa causa da moda, no mês seguinte?


Estaremos, nós no caminho?