25 de fev. de 2006

Carnaval

Mote de tantos ensaios narrativos, o carnaval acontece por todo o Brasil, nas passarelas, nas ruas e avenidas, nos clubes privados dos bairros luxuosos, e nos públicos salões do populacho. Foliões despreocupadamente pulam e pululam pelos locais festivos, celebrando sabe-se lá o que, na festa pagã mais animada do mundo.

Festa efêmera, surgida nos idos da idade média, o carnaval durava do dia de Reis até a quaresma. Modernamente ficou reduzido a quatro dias. Tempo suficiente para extrapolar todos os limites pessoais, corporais e sociais, tendo toda a quaresma pela frente, reservada aos arrependimentos.

Ao mesmo tempo, na Brasília de farras muito mais duradouras, os embalos legislativos vem produzindo um exuberante emaranhado de leis ininteligível, por onde é impossível transitar sem amassar a lataria. Verdadeira e inextrincável selva de palavras, onde nem facão afiado consegue abrir picada, a lei brasileira cresce em quantidade, ao mesmo tempo em que padece em qualidade.

A cada dia o cidadão é surpreendido por uma mudança em seus direitos, mesmo aquele direito que algum dia ousou-se afirmar ser fundamental e imutável, ser regra
pétrea
, ou pedra. Os arautos dos direitos humanos - coisa a se pensar - nunca foram apresentados ao legislador brasileiro. Este que anda, a despeito da tal Constituição "Cidadã" de Ulisses Guimarães, transformando cidadão em consumidor e escravo de um sistema capitalista, onde o único beneficiado é o próprio governo. Bem estar e social, só combinam separados. Alguns, bem estão em Brasília, outros estão socialmente embaixo do viaduto, ou na cela do presídio, revesando horas de sono no beliche, ou dormindo em pé, amarrados em grades.

O desfile alegórico governalmental, realiza fantasiosamente sua evolução. Retira, dia a dia, cada uma das garantias que o brasileiro pensa ainda possuir, mas apresenta samba-enredo bem ensaido, descobrindo, aqui e acolá, as carnes desavergonhadas, apenas para amainar a curiosidade do espectador. Afinal, carnaval sem escândalo na família, não é carnaval de verdade.

Enquanto passa a banda - emprestando cá a oportuna música - a massa alegre espalha-se na avenida e sorri. Mas quando a banda se for, será difícil tudo tomar seu lugar, porque até este poderá ter sido levado.

Nunca, como neste governico, Maquiavel foi tão utilizado. Pão e circo ao povo, e vamos à reeleição.