13 de jul. de 2010

Miséria

Palavras de Dostoiévski, postas na boca do personagem Marmieládov, logo no início do romance "Crime e castigo" (Trad. Natália Nunes e Oscar Mendes. Porto Alegre: L&PM, 2008. p. 23):



"- Meu senhor - começou quase com solenidade - a pobreza não é um pecado. Essa é a verdade. Sei também que a embriguez não é nenhuma virtude. Mas a miséria, meu senhor, a miséria... essa sim, essa é pecado. Na pobreza ainda se conserva a nobreza dos sentimentos inatos; na miséria não há nem nunca houve alguém que os conserve. A um homem na miséria quase que o correm à paulada; afungentam-no a vassouradas da companhia dos seus semelhantes para que a ofensa seja ainda maior; e é justo, porque na miséria sou eu o primeiro pronto a ofender a mim mesmo. Por isso bebo. Sim, senhor, há um mês que o senhor Liebiesiatnikov bateu na minha mulher, mas eu não sou a minha mulher! Está percebendo?"



Escrito no século XIX, parece que o livro fez previsão do destino daqueles que, hoje, estão excluídos da sociedade, vale dizer, aqueles que não consomem. Transformar-mo-nos todos em consumidores é o maior indicativo do final da cidadania.

12 de jul. de 2010

José Saramago

Até agora não consegui bem absorver o passamento de José Saramago (16.11.1922 - 18.06.2010).


Como bem definiu o jornal El País era "el escritor que nunca se escondió".


Firme eu suas posições e opiniões, suas obras fazem pensar. Pensar o bem, a justiça e o ser humano. Esse, sem dúvida, o maior legado de alguém que se importava, e que ensina a todos a escrever própria história. Como o próprio Saramago disse: "Na verdade, ninguém sabe para o que nasce. Nem as pessoas, nem os livros".

2 de jul. de 2010

Copa do Mundo (?)

Hoje limitar-me-ei a reproduzir palavras alheias, obtidas no blogue do Juca Kfouri (http://blogdojuca.uol.com.br)




A Copa Mercosul


Por Roberta Vieira



Quem diria?


A Copa do Mundo virou Copa do Mercosul.


Mercosul de veias abertas e futebol sem fronteiras.


Mercosul de Neruda, Galeano, Drummond e Borges.


Mercosul de Toro, Schiaffino, Pelé e Maradona.


Mercosul primeiro mundo no futebol.


Pois a miséria ainda habita seus grotões.


Pode ser que as semifinais não confirmem a nova geografia.


E daí?


Uma terra esquecida do mundo.


Lembrada apenas pela cana, por Potosí, pelo couro e pela subserviência.


Continua surpreendendo no maior espetáculo da Terra.


E por quê?


Antes que os arautos de uma nova ordem proclamem nossa grandeza.


Lembremos que os jogadores de futebol são pobres meninos de rua.


Com raras exceções.


Meninos que sonham tirar suas famílias da linha de pobreza.


Meninos que sonham com o trono em Madrid, Londres ou Paris.


Embora Moscou e Atenas também sirvam.


O futebol é território dos que nascem nos mocambos e vilas miseráveis.


Os garotos alemães e ingleses preferem outros brinquedos.


Os garotos suecos e dinamarqueses estudam de manhã e à tarde.


Antes de se proclamar que o Mercosul é bom de bola.


Entendam que o Mercosul é ruim de garfo e de vacina.


No dia em que o Mercosul for rico.


A Copa do Mundo muda de endereço.


Para tristeza de quem sonha com o Hexa.


E alegria de quem sonha simplesmente com justiça…