22 de dez. de 2005

O Jogo

Não sou especialista em tratar de partidas de futebol. Deixo isto aos brilhantes comentaristas esportivos de mesas redondas. Aqueles mesmos que são capazes de passar horas discutindo relevantíssimos temas sociais: "teria o Roseclêison se jogado dentro da área, naquele lance da partida entre Barra do Garça e Juvinóplis? Foi penâlti? Ou não?"

Mas é preciso tratar do jogo ocorrido no último domingo, dia 18/12/2005. Dia em que os torcedores do SPFC ganharam o presente de Natal, uma semana mais cedo.

Não sou torcedor do São Paulo. Mas nem por isso deixei de gostar da vitória, conquistada frente os súditos da Rainha. Vez que outra é bom ver os ingleses derrotados. E o desejo só aumenta, quando se começa a lembrar de todos os abusos cometidos contra o Reino de Portugal, na época em que o Brasil tinha o status político de colônia (não que hoje seja outro - afinal, aí está a economia para demonstrá-lo...).

Séculos passaram-se, e a Inglaterra cometeu abusos de toda sorte contra Portugal e, via indireta, contra o Brasil. Basta lembrar o absurdo acordo de comércio do vinho e do algodão (favor ninguém comentar sobre o intelecto dos portuguêses que assinaram o tratado de bom grado). Depois, os mesmos absurdos passaram a ser praticados contra o Brasil, como no caso do café, dos juros abusivos em relação à dívida externa, da venda da Independência, e tantos outros que aí estão, maculando nossa história.

Por isso, gostei de ver o desespero final daqueles que, com empáfia, e até mesmo arrogância, julgaram-se melhores. Gostei de ver o árbitro mexicano, também pertencente àquele lugar que chamam terceiro mundo, anular três gols. Que anulasse dez, vinte. Ainda assim seria maravilhoso - como foi - observar a tristeza estampada no rosto dos reds, pois com eles chorou sua nação. A queda, afinal, é sempre mais dolorida, quando é inesperada.

Mais importante, a derrota veio sem guerra e sem mortes. E isso faz do futebol algo admirável. Capaz de parar milhões de pessoas, ainda que por poucas horas, e de fazê-las esquecer as dificuldades da vida. E neste negócio, mesmo sendo terceiro mundo, somos os melhores.

P.S.1. É óbvio que era torcedor do Corinthians, o invasor do campo.

P.S.2. O São Paulo contabiliza mais um título mundial, mas não se esquecerá que teve medo de jogar no Joaquim Américo.

1 de dez. de 2005

Roda-Viva

Com o perdão de Chico Buarque, mas o título é apropriado, muito embora o texto nada tenha que ver com a música em si.

De assaltantes, pilantras, aproveitadores, ladrões, gatunos, pungistas, sonegadores, malandros, enganadores e desonestos em geral, a humanidade nunca pôde queixar-se de estar mal servida.

Desde o tempo dos faraós, e antes até, os homens roubam-se, furtam-se, enganam-se, aproveitam-se e ludibriam-se, numa constante troca ilícita de bens.

Assim ocorreu com ladrões que andavam a assaltar os jardins elevados da Babilônia, as pirâmides do Egito, os palácios de Roma, as assembléias da Grécia, e por aí afora.

Bastou à Europa içar âncara, baixar velas e desbravar novos mares, descobrindo novas terras, para surgir piratas. Bucaneiros, corsários e poltrões de todo gênero passaram a atacar os navios, carregados de mercadorias que, para lá e para cá andavam. Inclusive carregados de objetos que - novidade - eram furtivamente retirados dos índios (maias, incas e astecas), e levados à Europa.

Além disso, havia a escravidão onde alguns, menos afortunados, eram compelidos, pelo chicote, a trabalhar para outros, trocando o trabalho por comida e água, quado muito.

Finda a escravidão - ao menos a institucionalizada - criaram-se novas formas de aproveitar-se do trabalho alheio. Surgiram os mafiosos e traficantes, que, em troca de "proteção", angarivam fundos junto a comerciantes e trabalhadores.

Além disso, ainda de forma institucionalizada, até hoje o homem, através da guerra - motivada pelas mais esfarrapadas justificativas - mata, oprime, machuca e, principalmente, pilha, rouba e apodera-se do alheio.

E - mais interessante - quando um traficante é morto pela polícia, ou pelos rivais de tráfico, outro toma a dianteira na empreitada. Quando um capitão de corsários desagrada a tripulação, os demais amotinam-se, fazendo-o andar pela prancha, para alimentar tubarões.

Sempre que a bandidagem perde um líder, seja porque morreu sob fogo inimigo, seja porque desistiu ou, ainda, porque a própria bandidagem resolveu substituí-lo, não há o fim da bandidagem, pois outro assume o posto de comando.

Portanto, a pergunta que fica é: existe motivo para comemorar a cassação de José Dirceu?

14 de nov. de 2005

Cidadania lá. E aqui?

Já ultrapassou a contagem milhar, o número de veículos incendiados na França.

O grande abacaxi a ser descascado pelo governo daquele País, não cinge-se simplesmente à queimada de veículos. Estas, as queimadas, provavelmente são, e continuarão a ser, resolvidas pelos bombeiros e pelas empresas seguradoras.

Sobre as seguradoras - que estão acostumados a ganhar sempre e a perder nunca -, não se pode deixar de pensar que, num futuro bem próximo, provavelmente baterão às portas do governo, reclamando providências para conter os danos aos contratantes de seguro, e indenizações, pelos prejuízos sofridos. Também não se pode deixar de pensar que, já no atual estágio, estas mesmas seguradoras apresentam negativas de pagamento aos contratantes, alegando que o contrato não cobre atos de terrorismo ou balbúrdia social. Ganham em duas frentes, deixando imaculados os gastos, e aumentado os lucros.

Deixe-se, entretanto, este problema menor de lado, antes que se adentre em discussão sobre os rumos do capitalismo. Volte-se às frutas cítricas, no caso, o abacaxi, que além de ter considerável tamanho, provavelmente também provocará azedume na boca do governo francês. Isto se o conseguir descascar. Do contrário, terá que engoli-lo com casca e as grandes folhas pontudas, duras e espinhentas.

O azedo problema do governo francês está na grande quantidade de filhos e netos de imigrantes, nascidos naquelas paragens. Se tratam de franceses que, em sua maioria, são pobres, e filhos não legítimos da pátria. São resultado de atos espúrios do governo, que outrora, abandonando um casamento tradicional europeu, enamorou-se por terras distantes que lhe pareciam mais jovens e formosas. Lá foi deitar mão, arrebatando-as para si. Ocorre que, conforme já profetizava o francês Antoine de Saint-Exupery "tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas". É certo: se soubesse o resultado da previsão, o escritor recém alçado a profeta jamais a teria dito. Mas a atual circunstância merece outro brocardo, que se apresenta mais apropriado a uma situação tal, em que a mãe parece ter enjeitado os filhos, coisa que não se admite na natureza, nem nas sociedades modernas, como outrora não se admitia nas sociedades passadas. Não há, portanto, desculpas ou fugidelas que justifiquem enjeitar aquilo que lhe veio do ventre, afinal, "quem pariu Mateus que o crie", sendo vários, neste caso particular, os Mateus.

Toda aquela gente desempregada, em atos que não podem ser qualificados de outra coisa, senão desesperados, pretende fazer-se ouvir, clamando por emprego e vida dignia. Sim, emprego e vida digna é o que pretendem os filhos enjeitados da França. Nada mais, nada menos. Apenas buscam um direito que lhes prometeram, quando os atos de conquista amorosa levaram os governantes a outros leitos.

A grande confusão, o grande abacaxi a ser descascado, caso não se pretende degustá-lo com casca, o que já se alertou, pode ser um tanto quanto indigesto, é providenciar meios para que os franceses, filhos legítimos alguns, filhos adulterinos outros, possam exercer plenamente sua cidadania, trabalhando pela mãe, que outrora lhes pareceu tão boa, e que ultimamente se tem mostrado tão desnaturada.

Já por estas paragens, os filhos legítimos da Pátria mãe, que sempre se portou como megera, e que sempre foi maltratada pelos governos que lhe desposaram, aguentam privações e provações sem reclamar. Um dia, talvez, e assim espera-se, conseguir-se-á descobrir o por quê?

12 de nov. de 2005

Informação

Nestes últimos dias um absurdo excesso de trabalho impediu a atualização desta página.

Também serviu para uma reflexão. Não há escrita ou escritor, chargista, colunista ou ensaísta que dure, sem informação.

Excluídos os poetas - artistas da palavra - todos os outros que com ela lidam, precisam estar informados. É uma necessidade imposta pelos leitores. E, mais que isso, ao parecer mal informado, o próprio ensaísta desgosta do que escreveu. Ler algo escrito sem a devida e comprovada informação, ou sem que haja, pelo menos um ouvir dizer de verdade, embrulha o estômago.

Portano, este sítio ainda levará alguns dias a apresentar algo interessante, pois é necessário por em dia a leitura dos jornais, e verificar a quantas andam, as peripécias em Brasília.

27 de out. de 2005

Foco

Aí a notícia trazida pelo uol: motorista atropela 36 crianças para deviar de gato.

Aconteceu no Japão. O cidadão dirigia seu veículo pela rua e, ao avistar um lindo gatinho, jogou o carro na calçada, atropelando crianças de uma creche. As crianças faziam fila, para ir a um museu.

A segurança de um gato posta acima da segurança de crianças. Será que o motorista era louco? Não me parece que seja esta, a melhor pergunta a se formular.

Acontece que, dia após dia, cada um dos membros da civilização é bombardeado por toda espécie de informação. E a maioria desta informação vulgariza e sataniza o ser humano. Mostra a pior versão possível do homo sapiens.

Tudo o que se vê na televisão, em revistas, em placas comerciais, em panfletos, e tudo que se escuta em rádio, tende à vulgarização do ser humano.

Prega-se comportamento elitista, excludente e racista (este último de forma velada e "politicamente correta"); agressividade no convívio; disputa no trabalho; banalização do sexo; violência sem causa. Isto, não se pode negar, é o que retrata a humanidade. Retrato cego, para dizer o menos.

Ninguém mais retrata a carametade da humanidade. O lado bom e solidário; amoroso (não romanceado, por favor); assistencial e preocupado (em atitude sincera) com o próximo.

O retrato do que é bom deixa-se aos animais. Criança deixou de ser algo "bonitinho", para tornar-se público consumidor. Quem pretende retratar algo meigo, mostra uma fêmea qualquer, com seus filhotes. Quem quer retratar algo solidário, mostra um passarinho nas costas de um rinoceronte. Quem pretende mostar companheirismo, mostra um bando de gonfinhos. Por aí vai.

Não é sem razão que a morte de frangos, por conta da gripe asiática, tenha gerado protestos, como mostra a figura ali debaixo.

Não causa espanto que o cidadão tenha tido dó do gatinho. E que tenha jogado o carro sobre crianças. Afinal, vale sacrificar a integridade do carro pelo gato, que é bom. O que é ruim, este pode morrer.

O foco anda meio desajustado.



Foco

Aí a notícia trazida pelo uol: motorista atropela 36 crianças para deviar de gato.

Aconteceu no Japão. O cidadão dirigia seu veículo pela rua e, ao avistar um lindo gatinho, jogou o carro na calçada, atropelando crianças de uma creche. As crianças faziam fila, para ir a um museu.

A segurança de um gato posta acima da segurança de crianças. Será que o motorista era louco? Não me parece que seja esta, a melhor pergunta a se formular.

Acontece que, dia após dia, cada um dos membros da civilização é bombardeado por toda espécie de informação. E a maioria desta informação vulgariza e sataniza o ser humano. Mostra a pior versão possível do homo sapiens.

Tudo o que se vê na televisão, em revistas, em placas comerciais, em panfletos, e tudo que se escuta em rádio, tende à vulgarização do ser humano.

Prega-se comportamento elitista, excludente e racista (este último de forma velada e "politicamente correta"); agressividade no convívio; disputa no trabalho; banalização do sexo; violência sem causa. Isto, não se pode negar, é o que retrata a humanidade. Retrato cego.

Ninguém mais retrata a carametade da humanidade. O lado bom e solidário; amoroso (não romanceado, por favor); assistencial e preocupado (em atitude sincera) com o próximo.

O retrato do que é bom deixa-se aos animais. Criança deixou de ser algo "bonitinho", para tornar-se público consumidor. Quem pretende retratar algo meigo, mostra uma fêmea qualquer, com seus filhotes. Quem quer retratar algo solidário, mostra um passarinho nas costas de um rinoceronte. Quem pretende mostar companheirismo, mostra um bando de gonfinhos. Por aí vai.

Não é sem razão que o morte de frangos, por conta da gripe asiática, tenha gerado protestos, como mostra a figura ali debaixo.

Não causa espanto que o cidadão tenha tido dó do gatinho. E que tenha jogado o carro sobre crianças. Afinal, vale sacrificar a integridade do carro pelo gato, que é bom. O que é ruim, este pode morrer.

O foco anda meio desajustado.




24 de out. de 2005

Acabou

Finalmente o resultado do referendo sobre a probição do comércio de armas.

De todos os brasileiros que não se abstiveram de cumprir o dever cívico de votar, 63,94% disseram não; os que disseram sim, foram 36,06%; além destes, houve 1,39% de votos brancos e 1,68% de votos nulos.

Portanto, continua permitido o comércio de armas de fogo, e munição, no Brasil. Continua permitido, dentro dos limites do estatuto do desarmamento, o que é algo bem restrito.

Mais que um simples voto de não, este referendo demonstra vários outros aspectos do que pensa a população.

Primeiro, a população não confia na segurança pública, enquanto política adotada pelo governos, seja na esfera federal, na estadual ou municipal.

Segundo, a população não confia na polícia, seja civil ou militar, seja municipal.

Terceiro, a população está mais instruída, e já não admite que lhe sejam retirados direitos, sem que haja uma contrapartida compensatória.

Quarto, a população acredita na própria população. Votar não, neste sentido, é dar um voto de fé a cada cidadão com o qual se cruza na rua. É acreditar que este cidadão não estará portando armas, nem estará pronto a cometer um roubo, um homicídio, ou algo que o valha. É acreditar que aqueles que possuem armas, as deixarão em casa, para a proteção própria, da família e do patrimônio.

Quinto, presente está a crença de que o direito à vida está assegurado a todos. Desde que este direito não ameace a vida de outrem. Pois entre a vida do bandido e a sua própria, a população optou pela própria vida.

Mas, mais que tudo isso, este referendo demonstou o total, absoluto e incorrigível despreparo do atual governo. Baseado em estatísticas pouco convincentes e muitísssimo recentes, o governo atirou à população a decisão sobre sua própria segurança, num legítimo lavar as mãos. Não houve, antes do referendo, estudo aprofundado sobre a necessidade do referendo. Não houve uma real conscientização da população, sobre as políticas de segurança pública, e sobre o papel da polícia e do estado.

Prova disso é que a turma do não ganhou, apresentando os argumentos que mais facilmente poderiam ser derrubados pela turma do sim. E a turma do sim não consegiu fazê-lo.

Espero somente que, por conta do elevado número de mortes no trânsito, o governo não pretenda, em futuro próximo, estabelecer referendo sobre a proibição do comércio de veículos.

20 de out. de 2005

Pela comercialização de armas VII

Acabar com as armas para prevenir mortes acidentais siginifica combater uma - e apenas uma - conseqüência do problema. Significa deixar de lado a causa.

É entre os pobres, afirmam os defensores do sim, que acontecem acidentes e mortes motivadas por causas "fúteis" (desde já pergunto: fúteis para quem?). Entre os pobres o marido ciumento mata a mulher; entre os pobres dois bêbados exaltados atiram um no outro; entre os pobres os familiares matam-se por míseros trocados.

Então, certamente a causa de tudo isso é a arma de fogo, não a pobreza. Afinal, se o pobre não puder defender a si mesmo e a sua família, irá contratar uma empresa particular de segurança, não é mesmo?!?

Assim, ao invés de combater a pobreza, o mais correto é desarmar a população, gastanto milhões - dos quais o País não pode dispor - num referendo absurdo.

É a mesma coisa que acabar com jogos de futebol, pela morte de três torcedores.




Charge do Custódio.

18 de out. de 2005

Pela comercialização de armas VI

A pergunta do dia: e nos casos da favela, quando a polícia não sobe o morro? Quem vai defender o favelado?

A proibição do comércio de armas irá favorecer os pobres? Como, se estes só são atendidos pela polícia quando são presos!?!

Proibição ao comércio de armas favorece quem pode comprar segurança. A população em geral estará, ainda mais, vulnerável à bandidagem.

E ainda tem um texto do Polzonoff.




Charge do Sinovaldo.

17 de out. de 2005

Pela comercialização de armas V

Afirmam alguns que o grande problema das armas não é a invasão de residências; que o bandido arromba a residência do cidadão, quando este não se encontra.

Afirmam que o problema são os crimes de roubo, assalto à mão armada no meio da rua.


A estes, pergunta-se: teriam os senhores coragem de enfrentar um bandido, armado com uma faca, um punhal, um estilete, ou mesmo um simples canivete?





Charge do Jorge Braga.

13 de out. de 2005

Pela comercialização de armas IV

Pergunto-me quantos deputados, senadores, prefeitos, etc., possuem empresas de segurança particular. Pergunto-me também quantas licitações serão burladas e fraudadas, para contratação de empresas de segurança particular.

Afinal, se o governo não confia na polícia, a ponto de colocar segurança particular para cuidar da CEF e do Banco do Brasil, por que o cidadão deve confiar?





Charge do Iotti.

9 de out. de 2005

Não!

Este texto faz parte do ótimo projeto de blogagem coletiva Nós na Rede.


Alguém, antes deste referendo, cogitva proibir o comércio de armas?

Esta é a primeira pergunta que se deve enfrentar. A proibição do comércio de armas nunca foi discutido com a sociedade antes. Note-se - e se alerta desde já, para que não hajam acusações de má-fé - o assunto é a proibição do comércio de armas, não a restrição à posse ou porte.

A restrição à posse ou ao porte de armas sempre foi tema objeto de debate. Discussão presente no cotidiano, desde os meios acadêmicos, passando pelo meio político, para chegar aos programas sensacionalistas. Todos dão seu pitaco sobre o tema. Basta alguém famoso ser vítima de assalto ou homicídio, e lá estão Ratinhos, Márcias, Hebes e tantos outros mostrando indignação e clamando justiça.

Aliás, neste mesmo espaço já mencionei que a formação intelectual do brasileiro, como regra, passa necessariamente pela audiência a tais formadores de opinião. E aí já viu...

A proibição do comércio de armas é debate novo. No Brasil nunca houve, ao menos em tempos de lembrança possível, séria e difundida discussão desta natureza. O tema, portanto, choca, gera desconfiança e divide opiniões.

Mas nem por isso deve-se deixar de discutir. Afinal, dentro em pouco, cada eleitor brasileiro deverá dirigir-se até a respectiva zona eleitoral, sacar o título do bolso e apertar o botão, para depositar seu voto eletrônico.

Ao debate, então.

Pelo sim; pelo não; nunca se viu tantas estatísticas. A se pautar pela novidade da discussão, de se perguntar: serão honestas e verdadeiras? Quer parecer que não.

A manipulação dos números sempre foi algo perigoso na mão de especialistas de marketing. Neste referendo a coisa não é diferente. Pausa: alguém sabe quanto isto está custando aos cofres públicos? Será que Marcos Valério e a SMP&B participaram da licitação para organizar as campanhas? E o Duda Mendonça, seria a favor da descriminalização da briga de galo?

Voltando às estatísticas. Desconfie de qualquer texto que lide com estatísticas. Nenhuma é séria, simplesmente porque é impossível, em tão pouco tempo, elaborar estatísticas e pesquisas de opinião popular, que valham queimar as pestanas por elas. A turma leva-se pela emoção do momento, e tal qual torcida organizada, sai gritando: SIM! SIM! SIM! Ou NÃO! NÃO! NÃO! E quando a massa de manobra política - leia-se a turba, o povão - entra em campanha, está perdido qualquer foco de razão.

Aqui, caro leitor, não se encontrará nenhuma menção à estatística de qualquer espécie.

Desde logo deve-se deixar claro que o texto é pró-não. E vão aí os porquês.

O grande motivo pelo não desarmamento é bem conhecido. Os bandidos de verdade, os meliantes, os fora-da-lei, os caras maus enfim, não vão entregar suas armas. Sapientes de que a população está desarmada, os bandidos agirão com mais liberdade, e o crime graçará, ainda mais.

Não haverá mais a dúvida: "será que ao entrar nesta ou naquela casa, poderei me deparar com um cidadão armado"? Com a proibição, o cidadão terá que enfrentar o bandido de faca em punho. E aí, quem tem coragem?

Desarmar a população exige comprometimento com a segurança pública. E o governo, de um modo geral, não demonstra nem um pouco este comprometimento. Com também não se vislumbra nenhuma vontade de passar a demonstrá-lo. Outra pausa: como é que o poder público vai demonstrar comprometimento com o combate ao crime, se os maiores criminosos fazem parte do poder público? Ou alguém conhece algum assaltante de banco, ou mesmo chefão do narcotráfego da favela, que conseguiu tanto lucro quanto a quadrilha de Zé Dirceu, Kid Delúbio, M. V., Bob Jeff e companhia? Para estes, quanto pior a polícia, melhor.

Outro argumento bem conhecido é o da preservação do direito a autodefesa. Mesmo que o Brasil tivesse a polícia mais eficiente do mundo, ainda assim o cidadão tem direito a autodefesa. Se um bandido invade a casa do cidadão - ou tenta invadir -, no mais das vezes sequer há tempo de telefonar para a polícia. Recorre-se à autodefesa que, inclusive, é causa de exclusão do crime. Certamente o leitor sabe que a legítima defesa, inclusive quando causa a morte do ofensor, não é punida.

Agora, o principal arumento, quer parecer, não é nenhum dos dois acima. É argumento ainda não explorado pela turma do NÃO. Ocorre que a turma do SIM anda espalhando por aí, que a continuidade da venda de armas irá gerar aumento da criminalidade, aumento de homicídios e que ninguém mais poderá sair na rua, pois será constante o risco de uma bala perdida. Fazem parecer que, a ser preservado o comércio de armas, instaurar-se-á guerra civil.

Querem enganar a quem?!? O atual estatuto do desarmamento fixou regras tão rígidas para a aquisição de arma de fogo, que raramente alguém consegue comprá-la. Além disso, o preço para manter a arma também é alto. E o registro deve ser renovado a cada triênio. Não é qualquer um que irá comprar arma de fogo. A princípio, quem necessita e tem disponibilidade financeira poderá adquirir arma de fogo. Assim, é possível caminhar tranqüilo pela rua, sem risco de levar uma bala na testa.

Além disso, há um outro argumento muito interessante: a arma não dispara sozinha. Sempre haverá alguém para puxar o gatilho.

Então, qual a justificativa para gastar dinheiro público com esta campanha, ao invés de gastar em educação para o povo?

Pela comercialização de armas III

Alguém imagina que o marido ciumento, ou o cidadão que briga no bar, deixarão de matar o desafeto, simplesmente por não possuir arma de fogo?

Alguém imagina que os crimes de furto de veículos, arrombamento de casas e lojas, tráfego de drogas, vandalismo e tantos outros irão acabar, simplesmente pelo fato de os criminosos não possuírem arma de fogo?

Alguém imagina que os rachas com veículos irão acabar, simplesmente por que os motoristas não possuirão armas de fogo?




Charge do Rico.

6 de out. de 2005

Pela comercialização de armas II

A primeira pergunta a ser feita é: alguém dava importância ao comércio legal de armas, antes desta história de consulta popular?



Charge do Iotti.

4 de out. de 2005

Pela comercialização de armas I

Hoje se dará início à campanha pela continuidade do comércio de armas no Brasil.

Afinal, se você não é bandido, não precisa de um AR 15. E, se você é bandido, não vai querer um .38 merreca.




Charge do Laínson.

28 de set. de 2005

Aborto

Pesquisar o aborto, enquanto atividade sociológica, é praticamente impossível. Tal qual o suicídio, considera-se um tema tabu.

Isto leva a uma ausência de dados estatísticos concretos e convincentes a respeito do aborto. Ninguém, de fato, pesquisou a fundo qual o real número de abortos praticados no Brasil, ou em qualquer outro lugar do mundo. O que se encontra aos montes são dados aproximados. Todos os números referentes ao aborto são estimativos. Nunca são inteiramente reais. No caso do aborto, portanto, é difícil confiar em números. Este ensaio, justificadamente, não os levará em consideração.

Também serão deixados de lado os argumentos religiosos. Não se vive mais sob os auspícios de nenhuma igreja ou religião. E os argumentos religiosos nem sempre primam pela lógica e pela cientificidade. Não se correrá, desta forma, o risco.

Por fim, não se entrará na polêmica do aborto resultante de estupro, ou no qual a gestação significa risco para a mãe ou, ainda, no problema do aborto daquele feto que não apresenta nenhuma viabilidade de nascer com vida, ou continuar vivo depois do nascimento. O objeto de abordagem do texto é o aborto do feto são, em gestação que resulta de relação sexual consentida. Qualquer outra abordagem apenas servirá para desviar a discussão.

Ao tratar de aborto, uma única pergunta deve ser respondida: se trata de interrupção de uma vida?

Outra pergunta, entretanto, daí decorre: quando a vida tem início, na concepção ou depois do nascimento?

No Brasil, legalmente, a regulamentação fica por conta do Código Civil (Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002). Esta lei, em seu artigo 2º, diz que: "A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro".

Ninguém pode dizer que isso é novidade, pois a regra era idêntica no artigo 4º, do Código Civil de 1916 (Lei 3.071, de 01 de janeiro de 1916).

Portanto a lei reconhece que a vida tem início com a concepção (nascimento com vida, significa nascimento de alguém que já era vivo, antes de nascer). E, ao mesmo tempo, fica reconhecido que a criança gerada possui direitos, desde a concepção. Não pode excercê-los, é verdade, mas os possui. Tanto é verdade que uma mulher grávida que não possua herdeiros (fora a criança que está por nascer) não pode, por exemplo, doar todos os seus bens. Deverá esperar o parto e verificar se a criança nasceu com vida, haja vista que a lei garante à criança, antes mesmo do nascimento, os chamados direitos sucessórios, ou direito à herança.

Me parece, portanto, que a lei não deixa dúvidas. Há vida desde a concepção. Aborto, portanto, pelo critério legal, não pode deixar de ser crime. Pena de derrogar, tacitamente, o artigo 2º, do Código Civil.

Há, entretanto, fortes argumentos favoráveis ao aborto. Não se pode ignorá-los.

Diz-se (repito apenas o que li e ouvi, pois não possuo conhecimento científico para afirmar) que antes dos três meses não existe vida, tal qual se conhece. Mas a afirmativa não serve para responder integralmente a pergunta realizada. Ainda que a vida não seja "tal qual se conhece", se trata de vida. Se trata de ser vivo. E abortar significa interromper esta vida. Daí a questão que permanece: deve-se permitir a interrupção de uma vida, por outrem, ainda que seja a mãe?

Pode-se afirmar que o aborto, realizado em boas clínicas, com os métodos corretos, é capaz de causar mínima, ou até nenhuma dor ao feto.

Jogar uma bomba atômica sobre duas cidades do Japão também provocou a morte instantânea e indolor em milhares de pessoas; injetar veneno na veia de alguém adormecido por anestésicos, também não provoca dor, durante o professo de interrupção da vida; idem em relação à decapitação pela guilhotina; idem em relação a muitos outros métodos e formas de produzir morte. Nem por isso são organizadas passeatas, associações ou movimentos pró-homicídio indolor. Aborto com dor, ou sem dor, não deixa de ser aborto.

Também milita favoravemente ao aborto o fato de que ele é realizado de qualquer forma. Crime, ou não crime, há aborto. É realizado em clínicas clandestinas, sujas, com pessoal sem nenhuma formação que lhes habilite a realizar o procedimento cirúrgico, e assim por diante.

A este argumento responde-se com uma perguta: caso o aborto seja descriminalizado, o SUS irá providenciar para as gestantes que desejam realizar o procedimento, hospitais limpos, organizados, com cirurgiões especialitas em aborto, com acompanhamento psicológico anterior e posterior ao ato?

Pausa: questiono-me como seria o nome da especialidade médica para abortos, e se algum médico gostaria de cursar as aulas práticas de realização de aborto.

O aborto também pode ser realizado em casa. Na privacidade do lar, a mulher pode, via medicamentos químicos ou naturais, provocar o aborto em si mesma. Este é, sem dúvida, outro argumento interessante. Mas tal qual o aborto, também diversos outros crimes podem ser praticados em caso, na privacidade do lar. Um homem prode agredir fisicamente a esposa. Um estelionatário pode lesar centenas, talvez milhares de pessoas, via internet. Também via internet pode haver calúnia, injúria ou difamação. Desvio de milhões de reais dos cofres públicos ocorrem no aconchego do lar, ou de hotéis de luxo. Falsificações materiais e ideológicas de documentos idem. Mesmo um homicídio pode ser praticado entre quatro paredes. E pode nunca ser descoberto, se o cadáver for bem encondido.

Outra pausa: se o cadáver for derretido (sugiro soda cáustica e um tonel grande, destes que servem para armazenar óleo, depois de trocado, em postos de combustíveis), pode literalmente descer a descarga. Não haverá chance de ser encontrado o corpo. Sem corpo, sem crime.

Alguém pretende descriminalizar estas condutas, apenas porque podem ser cometidas em casa, com o criminoso agindo sozinho? Quer parecer que não.

Também existe a questão de que o crime de aborto raramente é punido. Ora, a ineficiência da polícia e da justiça não pode ser tomada como razão ou desculpa para descriminizar condutas. Caso contrário, crimes do colarinho branco, no Brasil, jamais poderiam ser crime. Todos deveriam ser descriminalizados.

Resta, enfim, o argumento de que o aborto, enquanto crime, serve de privação da liberdade sexual da mulher. Que se trata de uma interferência estatal sobre a liberdade da mulher, quanto aos usos que dá a seu corpo.

Ora, toda mulher sã sabe que a gestação é resultado de uma relação sexual. E toda mulher sã que possua grau mínimo de convivência social - notem que não se está, aqui, falando em escolaridade - sabe que existem métodos contraceptivos. Não usá-los, seja porque o parceiro não quer, seja porque a própria mulher não quer, é exercício de livre arbítrio. Assim, se a mulher opta, conscientemente, por não utilizar nenhum método contraceptivo, está disposta a assumir o risco de uma gestação indesejada.

E não se diga que há possibilidade de o método contraceptivo falhar. Se a camisinha estourar, é possível optar pela chamada pílula do dia seguinte.

Sustentar a descriminalização do aborto, para garantir a liberdade sexual da mulher é afirmar que o instinto, que o lado animal e incontrolável do ser humano, é superior ao aspecto cultural. É sustentar que é impossível o controle consciente das urgências do corpo. Este raciocínio, de que o lado animal do ser humano é superior ao aspecto cultural, é racioncínio que já provocou alguns absurdos. Como o de se achar que uma raça é superior à outra. Adolf Hitler que o diga.

A prática de relações sexuais sem utilização de métodos contraceptivos, com dito, representa risco. Ora, se se opta por correr um risco, ao mesmo tempo se está a optar por assumir as conseqüências do risco assumido.

O que se pretende, quer parecer, é realização de sexo sem conseqüências. É possível? Totalmente. Basta utilizar os métodos contraceptivos. Não gosta? Então assuma o risco, e também as conseqüências que dele decorrem.

Quando o cidadão pega o carro e dirige embrigado, sabe do risco de ser preso. Pode ir dirigindo, ou tomar um taxi. Idem se dá com a mulher. Se assumir o risco de sexo sem método contraceptivo, pode engravidar.

Ao invés de pregar o aborto, não seria hora de cobrar (e educar) da mulher uma atitude mais pró-ativa, quando ao uso de método contraceptivo, ainda que o parceiro não deseje?

Todos os argumentos pró-aborto, ainda que bons, esbarram na pergunda feita no início do texto. Todos desviam de dar uma resposta direta à pergunta; apontam circunstâncias secundárias e periféricas.

Melhor seria que todos os que empregam esforços e dinheiro em campanhas pró-aborto, direcionassem energia para campanhas pró-saúde, pró-alimentação, pró-educação, etc.

Porque aborto, com todo respeito, é interrupção de uma vida. É crime. E deve continuar a ser.


Outros textos sobre o mesmo tema podem ser encontrados no ótimo Nós na Rede.


O que é do povo, para o povo

Desde o dia 16/09/2005, última data em que foi postado algo neste espaço, os acontecimentos políticos escandalosos multiplicaram-se. Severino Cavalcanti renunciou afirmando que voltará; um doleiro deu depoimento bombástico; Paulo Maluf continua preso; haverá eleições na Câmara, onde o governo já é pressionado a entregar um ministério ao Partido Liberal, em troca de apoio.

Nossa - diria alguém espantado (a Vélhinha de Taubaté, imagino) -, quanta coisa escabrosa; quanta roubalheira; quanta gente safada.

Novidade mesmo, nenhuma.

A história se repete. Pouco tempo antes, foram ACM e Jader Barbalho a renunciar; o juiz Lalau estava preso; o governo (de FHC) era pressionado a trocar cargos por alianças políticas.

E o povo?

Com todo respeito, o Brasil não tem povo. Tem, no máximo, massa de manobra. A maioria da população sequer lembra em quem votou para deputado ou vereador. Quiçá lembra-se quem agraciou com o voto para senador.

Não há pressão popular, não há indignação, não há revolta, nada.

É certo que muito disso deve-se ao bondoso presidente Juscelino Kubitschek. Este, que aplicou o maior golpe já aplicado no Brasil. Retirou a capital da República do centro de pressão (eixo Rio-São Paulo), transferindo-a para o meio do cerrado. Escapou com seu séqüito para longe. Evitou enfrentar o povo. Mas também é certo que todos os que depois o sucederam, nada fizeram para melhorar. Ao contrário, passaram a participar ativa e alegremente do jogo sujo.

De lá para cá já o Brasil sentiu os resultados nefastos da existêncida da capital da República. Vê que as práticas safadas de trocas de apoio por cargos, de venda de votos parlamentares, de dinheiro sujo circulando para campanhas continuaram. Continuarão por muito tempo.

Severino Cavalcanti, neste sentido, é a figura caricata de cada um dos parlamentares que compõem o nobre Congresso Nacional. Corrupto sem um mínimo de vergonha; afana a população em nome próprio e em nome dos seus; emprega parentes; burla a lei para obter dinheiro ou vantagens para si; acusa o próprio filho, morto. E, na hora de assumir a responsabilidade, renuncia. Alguém duvida que conseguirá eleger-se, nos confins de seu reduto - ou curral - eleitoral? Alguém duvida que Severino amealhou dinheiro bastante, neste muitos anos de parlamento, para comprar número suficiente de votos?

Mas é preciso lembrar que, apesar de tudo, é o povo que elege cada um dos parlamentares. Será que é por isso que a educação anda tão em baixa?

Certo estava Raul Seixas, ao cantarolar que não queria ficar sentado frente a televisão, com a boca aberta, esperando a morte. Esta que, politicamente, já se vem avizinhando.

16 de set. de 2005

Paradoxos

No mesmo dia em que cassaram Roberto Jeferson, o Supremo Tribunal Federal julgou, favoravelmente, sete mandados de segurança. Tais medidas judiciais tinham por objetivo retirar o nome de sete parlamentares da lista de "cassáveis".

Para os que se expõe, a justiça dos homens funciona. Para outros, que se ocultam atrás de medidas judiciais, negociatas e dissimulações, a justiça funciona de maneira bem mais eficiente. Afinal, por que motivo queriam cassar os pobres parlamentares?

Roberto Jeferson apropriou-se de vultuosa quantidade de dinheiro. Mas teve coragem e compostura para apresentar ao Brasil o esquema capitaneado pelo Partido dos Trabalhadores. Sai merecidamente do Congresso, e merece mais ainda uma estátua em Brasília.

Em nenhuma outra cidade do Brasil cairia melhor uma estátua de Roberto Jeferson. Ao lado de outros ilustres safados que prestaram relevantes serviço ao Brasil, a estátua seria marco representando a lógica política brasileira.

Na Idade Média o senhor feudal, praticava, em seu reino, as maiores barbaridades e atrocidades. Então, para salvar a alma, doava uma boa quantidade de moedas para a Santa Igreja e ia a galope para as Cruzadas, buscar salvação para a alma.

Por aqui a coisa anda parecida. Para se eleger o cidadão promete a Deus e ao Diabo, vende a mãe quatro, cinco vezes; chega até a emprestar a mulher. Eleito, envolve-se em maracutaias, fraudes, roubos e desvios para pagar seus débidos, e recuperar a alma penhorada a financiadores de campanha. Se apanhado, renuncia, jurando inocência. Se a renúncia for proibida, há delação geral. Pronto, cai nas graças do público. Está a salvo do inferno. No meio em que vive, a história dos mosqueteiros - o um por todos, todos por um - nada vale. Se um afunda, leva o maior número de nobres colegas junto.

Muito estranho, nesta lógica brasiliense de agir, que alguns não queiram aparecer, que não queiram ser investigados. Afinal, só investigados para que possam alçar ao pedestal de acusadores ou mártires da Pátria. Ao remarem contra a maré, os tais sete beneficiados pelo benevolente Supremo Tribunal Federal, dão a dica de que nem tudo veio à luz. Por enquanto.

Aguardemos.

12 de set. de 2005

Ex-petáculo

No Brasil, tudo funciona na base do espetáculo. Se o governo não dá o circo, limitando-se - mal-e-mal - ao pão, daquele a mídia se encarrega.

Tantos são os exemplos de interferência direta da mídia - televisão, principalmente - nos atos de governo (em qualquer dos três poderes, e em qualquer das esferas e escalões destes), que é impossível não perguntar-se: para quê estão lá os governantes?

Não que a mídia seja a única responsável pela ingerência generalizada dos escalões governamentais. Afinal, se fiscalização (pouca) há, deve-se à imprensa. E gente sem-vergonha, malandra, safada, corrupta e, por que não, larápia, encontram-se aos cântaros nos três poderes. Não é este o enfoque do texto.

A mídia é, associada a anos de sucateamento de escolas e faculdades, responsável pela completa, absoluta e vergonhosa apatia da população, referente aos assuntos do poder. Anos e anos de novelas, xuxas, angélicas, silvios santos, anas marias bragas, gugus, faustãos, ratinhos, datenas (a lista, se for completada, tomará todo o espaço que o servidos destina ao blogue) e jornalismo autofágico (caras, isto é gente, fantástico, etc.) formaram uma população absolutamente alienada. No pior sentido da expressão, pois quando se verifica a capacidade crítica da população brasileira percebe-se que ali, é nada.

Esta interferência da mídia sempre existiu. Mas começou a ter maior repercussão (péssima, por sinal) com a morte da fulana atriz de novela, filha de atriz de novela (não perguntem-me o nome, por favor), assassinada por ator de novela. Eram namoradinhos, eu acho (na época devem ter saída na caras). Com campanha da rede globo de televisão e demais emissoras, capitaneadas pela chorosa e inconsolável mãe atriz da atriz, o Congresso Nacional remexeu-se nas cadeiras para aprovar a lei de crimes hediondos. Pausa: alguém conhece um crime mais crime que outros? Estes são os tais crimes hediondos. Até hoje não consegui conceber o conceito. Que dirá parir.

Depois vieram, também na novela, as denúncias dos problemas com drogas. E a cavalo também veio outra lei, que põe na cadeia, sem direito de liberdade provisória, qualquer coitado que tenha cem gramas de maconha para fumar.

A bola da vez foi a aprovação da lei que garante aos cegos a utilização de cão guia, mesmo no interior de estabelecimentos públicos. Lei, é certo, motivada pelo cegueta da novela.

Outra pausa: será que antes das tragédias televionadas ou criadas especialmente para a televisão, não havia assassinato, tráfego e uso de drogas, arrombamentos, furtos, estupros, deficientes físicos, e outros tantos problemas? Se sua resposta for não, que não havia, então abaixo as novelas.

Comoção social, no Brasil, só se vier acompanhada de galã, atriz bem maquiada e fundo musical. Enquanto isso, a população continua chutando mendigos pelas ruas; fechando o vidro para crianças do sinal vermelho; mandando pedinte criar vergonha e trabalhar; e vendendo voto em troca de cesta básica, óculos e vale transporte.

A palhaçada da semana foi a prisão de Paulo Maluf e filho. Helicóptero, algemas, correria, flashes ao vivo, invasão de cela e estupro da privacidade.

Portanto, luz, câmera, ação.

Ou, como dizem no início de cada sessão das CPI's: respeitável público...

2 de set. de 2005

Impressionante

Enquanto os Senhores Deputados e Senadores matam-se em três diferentes CPI's, onde o discurso vale mais que a ação, o Parlamento continua na mesma.

Dias atrás, em meio a pedidos de habeas corpus que autorizavam não responder a determinadas perguntas - ou a mentir, escolha o leitor que termo melhor define a coisa - foi aprovado polpudo aumento aos representantes da cúpula do Poder Judiciário, ou seja, aos Senhores Ministros dos chamados Tribunais Superiores. Claro que isso nada tem que ver com a concessão dos habeas corpus a representantes do PT, por enquanto o órgão pagador de salários (sempre pagos) e das contas públicas (estas, por sua vez, quase nunca honradas).

Um aumento para os Senhores Ministros acarreta conseqüência interessante. O valor do salário dos Senhores Juízes, em todo o Brasil, é vinculado ao valor do salário dos Senhores Ministros. Ou seja, se sobe o salário da patota de Brasília, também subirá o salário do resto da turma. E dê-lhe imposto para garantir folha de pagamento.

E não foi só isso. Nesta (novamente) triste semana da Pátria, nossos Parlamentares derrubaram o veto do Senhor Presidente (aquele deficiente físico, que não vê, e não escuta), e acabaram por garantir aos servidores (concursados e, principalmente, nomeados) da Câmara e do Senado, polpudo aumento de salário. Severino deve ter ficado muito feliz. Parente nomeado é o que não lhe falta.

Moral da história: enquanto nas CPI's os Parlamentares continuam na verborragia, no Parlamento o modus operandi volta a ser regra. Quer voto, Senhor Presidente? De cá minha verba. CPI, portanto, já virou ex-cândalo.

E a Pátria, em mais uma triste semana que lhe é dedicada, pelo menos salva-se enquanto usa chuteiras. Porque se por terno, gravata e ir a Brasília, já viu.

27 de ago. de 2005

Notícias Populares

Infelizmente, nestes últimos dias continua impossível acessar a página eletrônica do Notícias Populares.

Jornal dos mais instrutivos, o NP é capaz de mostrar o pior lado do ser humano. E ainda assim consegue ser divertido.

Lembro-me de algumas notícias com chamadas interessantíssimas, como da vez que em Richard Gere separou-se para dedicar-se ao budismo. Dizia a notícia de primeira capa: "Malandrão de Hollywood larga gostosona para virar monge".

Outra vez, um moleque que estava num terreno baldio soltando pipa, foi currado por três ou quatro meliantes. Noticiou o NP: "Foi soltar pipa e acabou na pica". E por aí vai.

Também tem as indispensáveis fotografias femininas, com modelos de péssima categoria ou, às vezes, com mulheres que nem modelos são. Outro dia estavam à mosta fotografias da tal Karina Somaggio, entitulada "a musa do mensalão".

Agora, em época das vacas magras, tem sido possível encontrar diversas promoções do NP. Dizia o slogam de uma propaganda de loteria: "Compre um presentão para a mulher da sua vida. Mas não esqueça a lembrancinha de sua esposa". E uma outra, quando o NP sorteou uma van de cachorro-quente: "O NP arranja a perua, e você entra com a salsicha."

Mas as melhores, sem dúvida, são as notícias de cunho sexual: "broxa torra o pênis na tomada"; "a morte não usa calcinha"; "bicha põe rosquinha no seguro"; "churrasco de vagina no rodízio do sexo". Tudo muito instrutivo e elucidante.

É o sacrifíco que se faz em prol da cultura.

16 de ago. de 2005

Mensalão X Minimão

A briga continua boa.

De um lado três CPI's tomam conta dos noticiários. E os depoimentos dos investigados apresentam cifras cada vez mais estratosféricas.

De outro lado, o Congresso Nacional insinua a aprovação de R$ 384,00. Brutal aumento do mínimo. Algo que, segundo os mesmos petistas desviadores de verba pública, irá levar a previdência social à bancarrota.

Nada tão contraditório.

Não é de hoje que os governantes, ministros, acessores, deputados, senadores, secretários e tantos outros desviam verbas públicas. Mas o PT consegiu algo inédito: foi pego com a cueca na mão. Literalmente.

Já me incluí entre os viciados em CPI, ou seja, portador de desvio comportamental recentemente descoberto pela Christiana. Não passo um dia sem ler os noticiários e, sempre que posso, largo mão da tela quente, para acompanhar os discursos e depoimentos, nas três comissões.

Ali, indignado, acompanho os depoentes, com naturalidade, falar de cifras que a maioria do povo (incluo-me) não verá jamais. Tudo ninharia. Tudo jogado fora em campanhas eleitoreiras. Em marketing e marketeiros, televisão, rádio, gráficas. A grana do povo voando ao vento, entre panfletos atirados ao chão. Tudo ao melhor estido brasileiro de desperdício do alheio.

Mais indignado fico, quando percebo que nosso Presidente gastou em sua campanha, mais que todos os candidatos ingleses juntos. Quando percebo que o indigitado que está prestes a sofrer pedido de impedimento, e que acabou de perder um respeitável aliado, vai jogar futebol e fazer churrasco.

Pede desculpas na sexta-feira e tudo está resolvido. Sábado vamos reune o pessoal, joga uma pelada, toma uma cerveja, faz churrasco e pagode.

Eu, caro Presidente, não o desculpo. Não até ver a grana toda devolvida, os culpados punidos e a carta de renúncia na capa dos jornais.

Impressões imprecisas sobre a rede mundial de computadores

Navegando pelas marés virtuais da rede mundial de computadores, é possível notar coisas estranhas.

Primeiro: como é que se navega numa teia? Mesmo as aranhas aquáticas, que produzem teias embaixo d'água, nelas não navegam. Certo é que apenas nadam, caminham ou, em se tratando de aranhas, dependuram-se. Ainda que se possa pensar numa atividade humana de navegação, provavelmente esta não ocorrerá numa teia. Nem ocorrerá naquilo que mais se parece uma teia, a rede de pescador. Aliás, havendo a rede, muito provavelmente não haverá navegação. Haverá, sim, transtornos à atividade.

Segundo: a comunicação na rede é muitíssimo mais rica que a comunicação feita por livros, revistas ou jornais. Só não conseguiu substituir a comunicação humana. Motivos óbvios justificam esta afirmação. Basta lembrar que a chamada traição virtual não apresenta nenhum risco de gravidez indesejada, ou transmissão de DST's - ao menos enquanto a atividade extraconjugal manter-se no âmbito virtual, é claro.

Terceiro: as informações transmitidas pela rede possuem potencial de atingir, em mínimo espaço de tempo, uma quantidade absurdamente maior de pessoas que as informações transmitidas por escrito. Entretanto, sempre é bom desconfiar da informação virtual, pois não exige autoria. Basta a utilização da famosa dupla "copiar" e "colar" para produzir uma notícia bombástica.

Quarto: encontra-se na rede muita coisa escabrosa. Desde os mais abjetos atos sexuais que a mente humana pode conceber - Calígula ficaria corado -, até situações completamente idiotas, como o cidadão que pedia que pessoas depositassem em sua conta, para não matar um coelhinho.

Quinto: também é possível encontrar na rede muita coisa boa. Algumas páginas pessoais - os chamados blogues - como a da Christiana, da Paula e do Paulo, do meu irmãozinho e da Clarice, são exemplo de que a rede não serve somente para produzir piadas e correntes.

Sexto: também é possível encontrar alguns seres desprovidos de qualquer imaginação, que listam coisas possíveis de serem encontradas na rede.

Bom, desta vez, não falei de CPI. E ainda deixei algumas boas dicas.

2 de ago. de 2005

Reality Show

Tinha programado escrever um conto hoje. Nem que fosse pequeno. Mas queria que fosse um conto. Não uma parábola com significado, ou então uma opinião pessoal. Mas então ocorreu o seguinte. Abri a Folha de São Paulo e estava lá, estampado: outro superávit, agora no mês de julho.

Fiquei então, pensando em tudo o que anda acontecendo na cidade construída por Juscelino para esconder os políticos safados, que cheguei n'uma conclusão. Quem precisa de governantes como os nossos?

Que difereça fez (ou fará) FHC ser sociólogo, lecionando em Paris, ou Lula ser membro das mais baixas camadas proteletárias? Respondo. Absolutamente nenhuma. O Brasil continua, em absoluto, na mesmíssima situação. A inadimplência no comércio é grande. Os juros são altos. Os bancos obtêm lucros astronômicos (aliás, estou pensando seriamente em anunciar nos classificados que aceito emprego de banqueiro). E a pobreza graça livremente em meio ao povo. Me pergunto: preciso deste tipo de governante?

Reclamações à parte, voltemos ao superávit. Superávit da balança fiscal significa que o Brasil exportou mais que importou, durante o mês de julho. Significa, também, que o Brasil continua enviando matéria-prima para os países desenvolvidos. Mas a situação brasileira está tão ruim que agora, sequer há dinheiro para adquirir o "produto manufaturado" de outrora, e atual "produto industrializado".

Ou seja, continuamos colônia. Se não de Portugal, de outros. Estados Unidos, Alemanha, Itália, Japão, China, ou qualquer outro país que possua um governo minimamente preocupado com o próprio país. Que resolveu permitir a criação de indústrias, para agregar valor aos produtos que importa. Para dar emprego ao povo. Para aumentar a circulação de dinheiro dentro do país.

Ante esta situação, que já dura quinhentos anos, na esteira de Israel, proponho a construção de um muro alto, com cerca eletrificada e permanentemente vigiado. Um muro em forma de avião. Para ficar ao redor de Brasília, com todos os políticos lá. E com a proibição de qualquer vôo entrando ou saíndo do local.

Tal qual ocorreu no romance de Saramago, seria enviado alimento. Também seriam enviados outros itens básicos de sobrevivêcia (Land Rover não entra na lista). E, bondosamente, também seriam enviados alguns milhões de reais, em espécie. Preferentemente em notas de R$ 1,00. E então ficaríamos assistindo todas aquelas notas mudando de mão. Mediante maracutaias, falcactruas, negociatas e trapaças.

Seria o melhro big brother já produzido.

26 de jul. de 2005

Compras

Já percebeu quanto é custoso comprar um livro novo e desconhecido pela internet?

Primeiro vem a dificuldade em saber algo importante sobre a obra. Isto porque somente algumas informações, que não são realmente necessárias, estão ali: editora, ano da publicação, número de folhas, ISBN e a foto da capa do livro (será que quem compra um livro apenas pela capa chega a lê-lo?). Tem algumas páginas eletrênicas que até apresentam uma breve e completamente inútil sinopse. Outras apresentam a opiniões dos leitores. E é incrível a quantidade de pessoas que dão a opinião (nem sempre aproveitável).

Raramente há índice da obra, coisa que seria interessante, principalmente tratando-se de livros técnicos. As lojas eletrônicas pretendem que o livro seja comprado, para somente depois ser realmente apresentado para o leitor. E não é difícil que o leitor fique decepcionado com sua escolha. Mas aí será tarde, porque a devolução é sempre difícil.

Depois vem a questão do preço. Normalmente o preço praticado pela loja eletrônica é o mesmo cobrado pelo livro na prateleira (quando a loja eletrônica possui local físico). Ou seja, não há desconto algum pelo fato de se deixar de utilizar as instalações do local, e de negociar diretamente com o computador, sem a necessidade de atendentes, caixas, zeladoras, checadores de cheques e cadastro, etc.

Pior: paga-se a postagem do livro, normalmente calculada em valor bem superior ao valor do correio (muito embora o livro seja enviado pelo correio). Pior ainda se o comprador for residente no interior. A postagem fica ainda mais cara.

Comprar um livro é bem diferente de comprar um CD. O CD oferece a opçõao de, através da página da loja, ser escutado. Ao menos algum trecho de cada uma de suas músicas. O livro não permite que sejam lidas suas partes. Raramente é possível ter acesso a introdução ou apresentação do livro. Compra-se apostando na sorte.

Não há divisão de prateleiras na loja eletrônica. É necessário conhecer o assunto pesquisado, ou então o autor. Não é possível, na página da loja, visitar os livros, e gostar de algum sem que se tenha planejado encontrá-lo. Quem compra pela página da loja deve saber o que quer, ou o que procura. E isto, definitivamente, tira a graça do ato de aquisição.

Afora isso, inexiste pronta entrega. Paga-se antes, para receber depois. Não dá para sair com o livro na sacola. Fica-se esperando o correio, e a boa vontade do empregado que irá postar o livro - mas somente depois da confirmação do pagamento.

E, incrivelmente, é sempre maior o némero de pessoas que compram livros em lojas eletrônicas. Ou sabem muito bem o que querem, ou não sabem nada.

13 de jul. de 2005

Atualização

Lamento informar. O blogue ficará sem atualização até sexta-feira próxima. O autor não consegue pensar em outra coisa, apenas na final da Taça Libertadores de América.

Entretanto, como a proposta do blogue não abrange comentários esportivos - deixe-se-os aos brilhantes jornalistas que engalfinham-se nas noites de domingo, discutindo se o Tião-Pé-de-Ferro fez ou não pênalti - o leitor pode esperar duas situações opostas.

Se o Clube Atlético Paranaense perder: um texto falando da miséria humana, ou da falta de vergonha da política nacional ou, ainda, de alguma outra previsão apocalíptica.

Se o Clube Atlético Paranaense ganhar: um texto falando sobre as sensações de amor e alegria, ou sobre como a popularidade do Presidente Luiz Inácio continua alta ou, ainda, sobre as maravilhas deste e de outros mundos.

Sem mais.

4 de jul. de 2005

Vergonha? É para quem tem.

Não queria mais escrever sobre política. Mas a fauna brasileira anda tão rica em bichos e suas artimanhas...

Finalmente descobriu-se que o publicitário pagava as contas do Partido dos Trabalhadores.

Pausa: já percebeu onde a sigla do Partido dos Trabalhadores cabe? Não? Cabe na corruPTão - com língua presa e tudo mais.

Volta da pausa, ou play, como queira. Pois bem, o PT faz um empréstimo. O publicitário assina como avalista, ao lado do presidente do PT e do tesoureiro do PT (que certamente seria o PC Farias, caso não tivesse "cometido suicídio"). Vencido o tempo do débito, o PT afirma que não possui fundos para realizar o pagamento (gastaram tudo em broches de estrelinha?!?). O publicitário, magnânimo, saca R$ 350.000,00 e paga a primeira parcela do empréstimo ao PT (afinal, é avalista). Nada de errado, segundo o presidente do PT, afinal, o cidadão assinou o aval.

Mas a empresa do avalista, como recompensa pela atitude filantrópica (?), é agraciada com alguns contratos de publicidade. Não publicidade do PT, mas para fazer publicidade do país onde reina o PT. Mais espantoso: os contratos de publicidade fazem aqueles mesmos R$ 350.000,00 parecer ninharia. Negócio da China, mas feito em terra brasilis.

Isto, é claro, sem falar em mensalão, em aumento de cargos de comissão para aumentar a arrecadação do PT, em Furnas, em correios e no Valdomiro Diniz.

E o que é pior. No Congresso Nacional ninguém demonstra vergonha. Ninguém ficou indignado por existir o mensalão e/ou o restante das maracutaias. Parece que o problema todo é que o homem que tem armário pugilista em casa abriu a boca. Ou seja, problema não é a maracutaia, mas sim a sociedade ser cientificada. Enquanto a coisa toda estava encoberta - ou sigilosa, como preferem os nobres parlamentares - tudo estava muito bem.

- Quero aprovada a MP que multiplica vergonhosamente a tributação da prestação de serviços.
- Então, meu amigo, de cá o meu.

E não se diga que o problema é só com o PT. A coisa é antiga.

- Descobriram a contagem de votos no painel eletrônico do senado!
- Deixe prá lá, meu rei. Eu renuncio. Eleição que vem tô de volta.

De fato, vergonha é para quem tem.

Por muito menos pintei a cara e fui para a rua pedir o fim da era collorida.

Por isso, tenho o dever de dizer: FORA LULA.

20 de jun. de 2005

Voto

Toda a escandalosa cena que se passa na Capital da tão sofrida República leva a uma reflexão. Há, realmente, necessidade de votar?

Não se está, aqui, contestando a lei. Legalmente, há necessidade de votar. Pois votar é dever cívico de cada cidadão maior de dezoito anos. E é faculdade cívica de cada cidadão que possua dezesseis anos completos. A ausência de voto acarreta prejuízos. O cidadão pode ser multado. O cidadão não poderá realizar alguns dos atos da vida civil. E o cidadão não terá cumprido com seu dever de auxiliar da democracia.

Democracia?

Entendia, em outros tempos, que democracia era aquele sistema onde vale a vontade da maioria, apurada pelo voto direto e não declarado, ou seja, secreto. Mas esta democracia nunca foi brasileira.

Por aqui, o voto, em seus primórdios, foi de cabresto - até hoje é assim.

Por aqui, o voto, em seus primórdios, foi dado em troca de bens ou favores - até hoje é assim.

Por aqui, o voto, em seus primórdios, é controlado e vigiado - até hoje é assim.

Até hoje é assim. Tanto o voto do povo, nas eleições, quanto o voto dos eleitos do legislativo, na aprovação ou desaprovação de leis.

Então, por que votar? Será possível defender a cada vez mais atrativa tese da desobediência civil? Quer parecer que sim. Vota-se se for aprazível. Se entender que não há candidato que mereça uma diligência até a zona ou curral eleitoral - os dois nomes são muito apropriados - fica-se em casa, assistindo as reportagens do movimento do gado indo ao curral, ou das putas entregando o produto da venda. Depois, continua-se em casa, assistindo os resultados das pesquisas de boca de urna e o minuto a minuto das apurações.

Tudo um verdadeiro espetáculo. Afinal, não é com pão e circo que se alimenta corpo e mente do povo?

19 de jun. de 2005

Fala, Atleticano

Um texto meu na Furacão.com. Leia, aqui.

13 de jun. de 2005

Terra sem lei

Impossível ficar imune ao denuncismo que corre solto em Brasília. Tentar não comentar o caso, é uma coisa: é até possível, silenciosamente, ler e escutar as notícias; mas ficar alienado, ou fingir alienação exige muito esforço. Só presidente para conseguir.

O partido supostamente comprador de votos de plantão finge alienação. Os chamados homens fortes do governo, afirmam, atestam, assinam embaixo e dão fé de que nada é temido, de que tudo será apurado, de que os responsáveis - em caso de verdadeiras as afirmações - serão descobertos e, por fim, punidos. Ainda que sejam do próprio partido. Ainda que sejam conhecidos de longa data e amigos íntimos.

Incrível como o ser humano tem capacidade de enfurecer-se, representar indignação e exigir responsabilização, depois da besteira feita. E antes? O que é feito antes da besteira? Se a briga é de casal, vá lá. Afinal, nestas horas a ningúem é dado meter a colher. Pelo menos não enquanto a briga fica no bate-boca. Mete-se a colher - e às vezes mete-se, literalmente, o pau no esposo - quando a esposa é agredida, naqueles típicos momentos de retorno ao animalesco. Melhor podem explicar os antropólogos. Mas a briga, no caso, não é de casal. A briga envolve dinheiro público. Grana que você, leitor, suou cinco meses e dez dias para receber. E repassou tudinho, compulsoriamente, a nossos queridos governantes.

Portanto, é dever de cada cidadão meter a colher na briga. Exigir, no mínimo, que sejam cassados impiedosamente os culpados. Que sejam afastados do governo os ministros envolvidos. Exigir que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal realizem investigações paralelas aos circos parlamentares de inquérito (sempre começam assim: "Respeitável Públicooooo! Vai começar mais um grandioso espetáculo da cpiiiiiiI!"). E exigir condenação, com cadeia, para cada um dos usurpadores do dinheiro público.

Se acha que é pedir demais, lembre-se das vezes que trocou o amortecedor do carro devido a estradas esburacas; das vezes que deu esmola no sinal, para velhos, mulheres com nenê no colo ou crianças; das vezes que foi assaltado; das vezes em que presenciou ao vivo, ou assistiu na TV (a incrível máquina de fazer doido) gente morrendo em macas, nos corredores superlotados dos hospitais, e gente morrendo fora dos hospitais; das vezes que pegou ônibus lotado; das vez que viu pessoas passando fome. Lembre-se disso, e tente não dar razão àqueles que exigem, radicalmente, punições exemplares.

E depois disso tudo, é dever lembrar do ocorrido e, mais que isso, é dever de cada um votar bem, nas próximas eleições.

6 de jun. de 2005

Perfume

Tinha em mente escrever alguma coisa sobre CPI, sobre a vergonhosa atitude do governo em esconder os aliados das investigações, sobre a distribuição de dinheiro público para que as denúncias sejam esquecidas e assim por diante. Desisti no meio do caminho. A imprensa já faz isso todos os dias. Pára apenas quando recebe "sua" parcela de verbas. Deixe-se, pois, o assunto de lado.

Enquanto escrevo, a televisão está ligada em um programa que não sei o nome e nem entendo o que estão a falar os atores - falam em italiano, sem legendas. Durante as propagandas, uma, em especial, chama a atenção. Um cidadão - só ele é colorido, o restante do cenáio é em preto e branco - entra num daqueles elvadores antigos. Daqueles de puxar um pedaço da porta para cima, e outro para baixo. O colorido.... pausa na narrativa da propaganda: o colorido em questão possui apenas um "éle", não se trata do ex-presidente alagoano. Pois bem, o colorido entra no elevador e dá de cara com uma moça - também colorida. Ela o encara e então aperta o botão stop, para que o elevador pare, obviamente. Depois disso, some o casal e aparece um perfume, com o frasco rodando. A tela em preto e branco, o perfume colorido. Meio rosa, para falar a verdade.

Assistindo a esta propaganda ficaram algumas dúvidas: o que será que aconteceu depois? A colorida se atracou com o colorido? Ou o diretor do comercial disse "corta", e ambos voltaram a seus camarins para trocar-se, ir no RH pegar o cachê e tomar e caminho de casa? A segunda opção é a mais provável.

Mesmo assim, imagine que a primeira opção aconteceu realmente. Será que o casal colorido iria, realmente, atracar-se no elevador? Pior, num elevador velho que, sabe lá se iria aguentar o chacoalhar do casal, indo e vindo voluptuosamente. Sim, porque as caras e bocas que faziam no comercial dão nítida impressão que haveria, entre eles, no mínimo, sexo animal. Outra pausa: alguns animais, se inquiridos sobre a metáfora, iriam dela discordar, afirmando que fazem sexo muito calmamente. Alguém já imaginou duas tartarugas fazendo sexo selvagem?

Além do risco do elevador literalmente cair - o elevador é velho, lembre-se - há o risco de o síndico do prédio chamar um técnico em elevadores. Ou em consertar pessoalmente o defeito. O que o casal faria, caso fosse surpreendido pelo síndico em pleno ato sexual selvagem? O convidaria para participar? Ela ficaria horrorizada, cobrindo-se com a cuéca do colorido cheiroso? E o síndico? Daria meia volta, deixando o casal terminar o serviço? Diria à zeladora para limpar o local, depois de os coloridos terminarem o ato?

Ou o síndico chamaria a polícia? Seria interessante ver o colorido, cheiroso, jogado numa cela qualquer, de uma delegacia qualquer, num subúrbio de uma cidade qualquer, com um travesti. E seria mais interessante ainda se o travesti tivesse a mesma reação da colorida, exigindo sexo selvagem.

E se a colorida fosse casada? Será que o síndico iria semanalmente dela exigir favores sexuais para nada contar ao marido? Bastaria, é verdade, que o síndico usasse o perfume em questão. A colorida ficaria apaixonada.

Como é impossível saber o que iria acontecer, fica outra pergunta: por que a televisão faz tudo parecer tã fácil?

É como se em todo o mundo, corriqueiramente, as pessoas praticassem sexo nos elevadores. Dialogariam, depois: - Menina, ontem eu e o Pafuncião fizemos amor num elevador panorâmico.
- Jura?!? Me conta, vai.

Ou então: - Bicho, ontem a Crenivelsa me fez um boquete na frente do povão, no panorâmico lá do shopping.
- Tê falei que aquela topo tudo, não falei?

Eu, sinceramente, prefiro ficar fedido.

31 de mai. de 2005

Amazônia

Um dos editoriais do New York Times, publicado hoje, 31/05/05, trata da Amozônia. Ou Amazon, como a chamam os estado-unidenses.

O editor aponta o fato de que, nos últimos doze meses, foram desmatadas 10.000 milhas quadradas de floresta, que equivalem a, aproximadamente 14.000 quilômetros quadrados (a conversão não foi feita pelo editor do jornal, mas pelo editor do blogue). Afirma, ainda, que esta foi a maior devastação desde 1995. Naquele ano foram desmatadas 11.000 milhas quadradas de floresta, que equivalem a, aproximadamente, 15.400 quilômetros quadrados (esta conversão também não foi feito pelo editor do jornal). Ou seja, é terra que não acaba mais.

Um quilômetro quadrado equivale a espaço ocupado por cem quadras, de cem metros quadrados cada (descontado o espaço das ruas entre elas). Considerando que uma quadra equivale, aproximadamente, ao tamanho de um campo de futebol, fácil concluir que, no espaço de floresta desmatada nos últimos doze meses, é possível construir 1.400.000 campos de futebol.

Os empresários futebolísticos devem estar bem contentes, afinal, a proporção de venda de jogadores para a Europa é idêntica à proporção de crianças peladeiras "descobertas" por olheiros.

Além de apresentar o tamanho da área desmatada, o editorial afirma existirem fotografias do desmatamento. Feitas por satélite, claro. Com certeza estão lá nos registros da NASA, da CIA, do FBI, do Pentágono, do Executivo estado-unidense e, como não, nos arquivos do New York Times. Afinal, como Jorge Kajuru, o New York Times só faz denúncia devidamente documentada. Nosso Presidente, acusado levianamente de gostar de uma birita que o diga.

Afora apresentar dados e justificar a forma como foram colhidos, o editorial também afirma que o governo federal (o brasileiro, não o estado-unidense) naquela região, têm menos poder que alguns grupos políticos. Sugere que esta falta de poder, tanto quanto a ausência de polícia e fiscalização para fazer cumprir a lei, é um dos motivos pelas mortes de Chico Mendes e de Dorothy Stang (a freira estado-unidense). E também é um dos motivos do desmatamento (afinal, este é o assunto abordado pelo editorial).

Por fim, o editorial ataca Blairo Maggi, governador de Mato Grosso, e afirma que a Amazônia não pode servir de commodity a ser explorado por particulares. Blairo Maggi (isso também está no editorial) é o chamado "rei da soja", ou seja, o maior produtor (pessoa física) de soja do Brasil.

Claro que não esquece de dizer que a Amazônia é uma fonte de biodiversidade, e de remédios (com vários, inclusive, já patenteados pela indústria estado-unidense, mas isso o editorial não conta). E também afirma que a floresta é responsável pelo controle do aquecimento global (aquele provocado pelo pessoal contrário ao Tratado de Kioto e tantos outros tratados de proteção ao meio-ambiente).

Não que o editor não tenha razão. Tudo o que consta no editorial provavelmente é verdade. Mas, vindo de quem vêm, apesar de ser verdade, é inaceitável. Os motivos já são de suficiente conhecimento público.

Portanto, vindo de quem vem, só posso desejar uma coisa: este editor que enfie toda a tiragem do New York Times.

24 de mai. de 2005

Português

Não. Este texto não se trata de uma piada de português. Muito embora uma piada, com toda certeza, seria bem mais interessante que qualquer escrito meu.

Piada é cultura popular. Nunca se sabe quem dela é mentor intelectual. Aliás, o termo "mentor intelectual" não é designação segura de um autor de piadas. Piada, segundo o bom e velho Dicionário Aurélio é: [...] 3. Dito engraçado e espirituoso; pilhéria, chiste. 4. Chalaça picante. 5. Picuinha. 6. Conversa fiada; lorota. Já chalaça, segundo o que encontrei no mesmo Aurélio, é: 1. Dito zombeteiro. 2. Gracejo de mau gosto, ou insolente; graçola, chocarrice. 3. Caçoada, troça, zombaria. Não vou continuar com isso, tentando descobrir o que vem a ser chocarrice. Perderia o dia inteiro em indas e vindas no dicionário. Na metade do serviço estarei espirrando.

As definições que os dicionários apresentam são interessantes. Piada, pode ser, então, chalaça picante. E chalaça, por sua vez, é um gracejo de mau gosto ou insolente. Ou seja, piada, segundo o Auréio, é um gracejo insolente picante. Haja palavrão para adequar a piada ao conceito.

Voltando às piadas e a seu mentor intelecutual: inventor de piada não é, a sério, um verdadeiro "mentor intelectual". Pode até ser um "gozador intelectual". Ou então um "besteirento intelectual". Mas normalmente o cidadão que inventa piada o faz tomando uma birita, no meio de uma paquera, enquanto tenta impressionar alguém do sexo oposto (não necessariamente). Ou então o faz em rodas de amigos. Nem precisa tomar birita, pois roda de amigos serve para relato de causos e piadas. Diferente do que ocorre em rodas de amigas. Deixa prá lá esta coisa de diferença comportamental sexual, quando machos ou fêmeas andam em bando. Também este não é assunto deste texto.

Voltando novamente às piadas. Pode ser que o mentor intelectual seja inteligente. Mas inteligência não é requisito para se inventar piada. Aliás, se uma piada for elaborada por um intelectual (no sentido de cientista) provavelmente será sem graça. Piada boa é aquela criada em meio à alegria, ainda que seja a alegria de afogar as mágoas, acompanhado de Baco. Cria-se a piada da própria desgraça, e dela se ri. Brasileiro, aliás, é campeão em rir da própria desgraça - enquanto o governo ri de nossa desgraça. Pergunto: quem é que não conhece piada do dedo faltante do Lula? Ou do bigode do Sarney? Ou do nariz do Fernando Collor? Não é a alegria, afinal, a melhor forma de encarar a vida?

Este texto não se trata de uma piada de português. E também não deveria ser um texto sobre piadas, mas raramente consigo manter a concentração em apenas um assunto. Saiu assim, que assim seja. Ficam para a próxima as meledicências sobre aqueles que maltratam a língua escrita. Este, afinal, deveria ser o texto sobre português.
Por falar nisso, conhece aquela do Joaquim?

16 de mai. de 2005

Passeatas

Sentado numa mesa gigantesca, fazia prova de espanhol. Se tratou da primeira etapa de um teste seletivo de pós-graduação.

Os candidatos foram dispostos frente a frente, numa mesa quadrada enorme. A serventia do móvel, certamente está ligada às aulas ministradas naquela sala. Mas a mesa é realmente grande. Estava sentado no canto da mesa, perto da porta. Afora as entradas e saídas dos Professores Bancas, nada atrapalhava a realização da prova. O silêncio reinava absoluto. Era possível ouvir passarinhos cantando e o burburinho dos estudantes da universidade.

"PREFEITO SAFADO! PREFEITO SAFADO!"

Após recuperar-me do susto, amaldiçoei até a quarta geração do cidadão que gritava a plenos pulmões no microfone. Não fazia a mínima idéia do motivo da manifestação até ler o jornal, no sábado. Naquele momento, entretanto, tentava pensar na prova de espanhol.

"ABAIXO O PREFEITO!"

Após certo tempo, o povão começou a acompanhar aquele e outros gritos de ordem. Tinha um que rimava, mas não é possível lembrar.

A coisa continuava cada vez mais alta, impedindo os candidatos de manter nível de concentração aceitável para realização da prova. Indaguei à Professora Banca:
"- Se o problema é com o prefeito, por que não vão gritar na frente da Prefeitura?"
"- Tudo acontece aqui." Respondeu um dos candidatos.

Não pisava na cidade fazia meses. Nem para passear, nem para estudar. E logo quando resolvo fazer teste eliminatório, surge passeata exatamente embaixo da janela da sala. Só pude terminar a prova quando a massa reivindicante se pôs a marchar pelo centro da cidade.

Para que, afinal, servem as passeatas de hoje em dia? Servidores públicos que reivindicavam aumento imediado de salário. E para isso abandonaram o serviço em plena manhã de sexta-feira. Os alunos de rede pública de ensino foram dispensados. O atendimento da população foi relegado para segunda-feira. Apenas os postos de saúde, segundo os jornais, mantiveram-se abertos.

Por que ninguém faz passeata em finais-de-semana? A resposta de que o prefeito não estar na Prefeitura é inadmissível. É óbvio que pelo menos um dos participantes do movimento sabe onde o prefeito mora. Garanto que o efeito da reivindicação será imediato, caso o prefeito seja impedido de continuar o sono sagrado de domingo. E o serviço público não será prejudicado.

11 de mai. de 2005

Diálogos Insanos

Por essas e outras é que continuo acreditando em amor de mãe.

Durante uma longa e cansativa jornada pela estrada, perto da meia-noite, mãe e filho de cinco anos dormiam no banco traseiro.

- Mãe...

- Mãããããe...

- Hã?!? Hum!?! Que é que foi, moleque?

- Elefante vôa?

- Não.

...

- Mãããããe...

- Hã?!?

- E barata?

- Que é que tem a barata?

- Por que barata vôa?

- Tira o pé da minha bunda e deixa eu dormir.

- Mas...

...

- Mãããããe... camelo vôa?

Plaft!

A paz e o silêncio voltam a reinar absolutos. Lá fora, só o som dos pneus no asfalto.

Estréia

Isto é apenas uma estréia.
Testando...
Um, dois, três...
Som....
Um, dois três...