14 de nov. de 2005

Cidadania lá. E aqui?

Já ultrapassou a contagem milhar, o número de veículos incendiados na França.

O grande abacaxi a ser descascado pelo governo daquele País, não cinge-se simplesmente à queimada de veículos. Estas, as queimadas, provavelmente são, e continuarão a ser, resolvidas pelos bombeiros e pelas empresas seguradoras.

Sobre as seguradoras - que estão acostumados a ganhar sempre e a perder nunca -, não se pode deixar de pensar que, num futuro bem próximo, provavelmente baterão às portas do governo, reclamando providências para conter os danos aos contratantes de seguro, e indenizações, pelos prejuízos sofridos. Também não se pode deixar de pensar que, já no atual estágio, estas mesmas seguradoras apresentam negativas de pagamento aos contratantes, alegando que o contrato não cobre atos de terrorismo ou balbúrdia social. Ganham em duas frentes, deixando imaculados os gastos, e aumentado os lucros.

Deixe-se, entretanto, este problema menor de lado, antes que se adentre em discussão sobre os rumos do capitalismo. Volte-se às frutas cítricas, no caso, o abacaxi, que além de ter considerável tamanho, provavelmente também provocará azedume na boca do governo francês. Isto se o conseguir descascar. Do contrário, terá que engoli-lo com casca e as grandes folhas pontudas, duras e espinhentas.

O azedo problema do governo francês está na grande quantidade de filhos e netos de imigrantes, nascidos naquelas paragens. Se tratam de franceses que, em sua maioria, são pobres, e filhos não legítimos da pátria. São resultado de atos espúrios do governo, que outrora, abandonando um casamento tradicional europeu, enamorou-se por terras distantes que lhe pareciam mais jovens e formosas. Lá foi deitar mão, arrebatando-as para si. Ocorre que, conforme já profetizava o francês Antoine de Saint-Exupery "tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas". É certo: se soubesse o resultado da previsão, o escritor recém alçado a profeta jamais a teria dito. Mas a atual circunstância merece outro brocardo, que se apresenta mais apropriado a uma situação tal, em que a mãe parece ter enjeitado os filhos, coisa que não se admite na natureza, nem nas sociedades modernas, como outrora não se admitia nas sociedades passadas. Não há, portanto, desculpas ou fugidelas que justifiquem enjeitar aquilo que lhe veio do ventre, afinal, "quem pariu Mateus que o crie", sendo vários, neste caso particular, os Mateus.

Toda aquela gente desempregada, em atos que não podem ser qualificados de outra coisa, senão desesperados, pretende fazer-se ouvir, clamando por emprego e vida dignia. Sim, emprego e vida digna é o que pretendem os filhos enjeitados da França. Nada mais, nada menos. Apenas buscam um direito que lhes prometeram, quando os atos de conquista amorosa levaram os governantes a outros leitos.

A grande confusão, o grande abacaxi a ser descascado, caso não se pretende degustá-lo com casca, o que já se alertou, pode ser um tanto quanto indigesto, é providenciar meios para que os franceses, filhos legítimos alguns, filhos adulterinos outros, possam exercer plenamente sua cidadania, trabalhando pela mãe, que outrora lhes pareceu tão boa, e que ultimamente se tem mostrado tão desnaturada.

Já por estas paragens, os filhos legítimos da Pátria mãe, que sempre se portou como megera, e que sempre foi maltratada pelos governos que lhe desposaram, aguentam privações e provações sem reclamar. Um dia, talvez, e assim espera-se, conseguir-se-á descobrir o por quê?

4 comentários:

Anônimo disse...

Ricardo, hoje é dia internacional da tolerância. Adivinha em que país foi assinado o documento que instituiu esse dia? E em que cidade? Uma lástima, não é? Abraço.

Maranhão disse...

Clarice,

Não sei se é, realmente, uma lástima, ou se, em verdade, é um exemplo.

Mesmo ante as atitudes de vandalismo, permito-me a dúvida.

Abraço

Anônimo disse...

Ricardo, como está Ângela? Melhorou? Fiquei preocupada com o que ela escreveu. Abraço e melhoras a ela.

Maranhão disse...

Clarice

A Ângela já melhorou. Provavelmente foi alguma coisa que ela comeu.

Quer dizer, não sou médico, mas acho que foi.

Abraço