13 de jun. de 2005

Terra sem lei

Impossível ficar imune ao denuncismo que corre solto em Brasília. Tentar não comentar o caso, é uma coisa: é até possível, silenciosamente, ler e escutar as notícias; mas ficar alienado, ou fingir alienação exige muito esforço. Só presidente para conseguir.

O partido supostamente comprador de votos de plantão finge alienação. Os chamados homens fortes do governo, afirmam, atestam, assinam embaixo e dão fé de que nada é temido, de que tudo será apurado, de que os responsáveis - em caso de verdadeiras as afirmações - serão descobertos e, por fim, punidos. Ainda que sejam do próprio partido. Ainda que sejam conhecidos de longa data e amigos íntimos.

Incrível como o ser humano tem capacidade de enfurecer-se, representar indignação e exigir responsabilização, depois da besteira feita. E antes? O que é feito antes da besteira? Se a briga é de casal, vá lá. Afinal, nestas horas a ningúem é dado meter a colher. Pelo menos não enquanto a briga fica no bate-boca. Mete-se a colher - e às vezes mete-se, literalmente, o pau no esposo - quando a esposa é agredida, naqueles típicos momentos de retorno ao animalesco. Melhor podem explicar os antropólogos. Mas a briga, no caso, não é de casal. A briga envolve dinheiro público. Grana que você, leitor, suou cinco meses e dez dias para receber. E repassou tudinho, compulsoriamente, a nossos queridos governantes.

Portanto, é dever de cada cidadão meter a colher na briga. Exigir, no mínimo, que sejam cassados impiedosamente os culpados. Que sejam afastados do governo os ministros envolvidos. Exigir que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal realizem investigações paralelas aos circos parlamentares de inquérito (sempre começam assim: "Respeitável Públicooooo! Vai começar mais um grandioso espetáculo da cpiiiiiiI!"). E exigir condenação, com cadeia, para cada um dos usurpadores do dinheiro público.

Se acha que é pedir demais, lembre-se das vezes que trocou o amortecedor do carro devido a estradas esburacas; das vezes que deu esmola no sinal, para velhos, mulheres com nenê no colo ou crianças; das vezes que foi assaltado; das vezes em que presenciou ao vivo, ou assistiu na TV (a incrível máquina de fazer doido) gente morrendo em macas, nos corredores superlotados dos hospitais, e gente morrendo fora dos hospitais; das vezes que pegou ônibus lotado; das vez que viu pessoas passando fome. Lembre-se disso, e tente não dar razão àqueles que exigem, radicalmente, punições exemplares.

E depois disso tudo, é dever lembrar do ocorrido e, mais que isso, é dever de cada um votar bem, nas próximas eleições.

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