6 de jun. de 2005

Perfume

Tinha em mente escrever alguma coisa sobre CPI, sobre a vergonhosa atitude do governo em esconder os aliados das investigações, sobre a distribuição de dinheiro público para que as denúncias sejam esquecidas e assim por diante. Desisti no meio do caminho. A imprensa já faz isso todos os dias. Pára apenas quando recebe "sua" parcela de verbas. Deixe-se, pois, o assunto de lado.

Enquanto escrevo, a televisão está ligada em um programa que não sei o nome e nem entendo o que estão a falar os atores - falam em italiano, sem legendas. Durante as propagandas, uma, em especial, chama a atenção. Um cidadão - só ele é colorido, o restante do cenáio é em preto e branco - entra num daqueles elvadores antigos. Daqueles de puxar um pedaço da porta para cima, e outro para baixo. O colorido.... pausa na narrativa da propaganda: o colorido em questão possui apenas um "éle", não se trata do ex-presidente alagoano. Pois bem, o colorido entra no elevador e dá de cara com uma moça - também colorida. Ela o encara e então aperta o botão stop, para que o elevador pare, obviamente. Depois disso, some o casal e aparece um perfume, com o frasco rodando. A tela em preto e branco, o perfume colorido. Meio rosa, para falar a verdade.

Assistindo a esta propaganda ficaram algumas dúvidas: o que será que aconteceu depois? A colorida se atracou com o colorido? Ou o diretor do comercial disse "corta", e ambos voltaram a seus camarins para trocar-se, ir no RH pegar o cachê e tomar e caminho de casa? A segunda opção é a mais provável.

Mesmo assim, imagine que a primeira opção aconteceu realmente. Será que o casal colorido iria, realmente, atracar-se no elevador? Pior, num elevador velho que, sabe lá se iria aguentar o chacoalhar do casal, indo e vindo voluptuosamente. Sim, porque as caras e bocas que faziam no comercial dão nítida impressão que haveria, entre eles, no mínimo, sexo animal. Outra pausa: alguns animais, se inquiridos sobre a metáfora, iriam dela discordar, afirmando que fazem sexo muito calmamente. Alguém já imaginou duas tartarugas fazendo sexo selvagem?

Além do risco do elevador literalmente cair - o elevador é velho, lembre-se - há o risco de o síndico do prédio chamar um técnico em elevadores. Ou em consertar pessoalmente o defeito. O que o casal faria, caso fosse surpreendido pelo síndico em pleno ato sexual selvagem? O convidaria para participar? Ela ficaria horrorizada, cobrindo-se com a cuéca do colorido cheiroso? E o síndico? Daria meia volta, deixando o casal terminar o serviço? Diria à zeladora para limpar o local, depois de os coloridos terminarem o ato?

Ou o síndico chamaria a polícia? Seria interessante ver o colorido, cheiroso, jogado numa cela qualquer, de uma delegacia qualquer, num subúrbio de uma cidade qualquer, com um travesti. E seria mais interessante ainda se o travesti tivesse a mesma reação da colorida, exigindo sexo selvagem.

E se a colorida fosse casada? Será que o síndico iria semanalmente dela exigir favores sexuais para nada contar ao marido? Bastaria, é verdade, que o síndico usasse o perfume em questão. A colorida ficaria apaixonada.

Como é impossível saber o que iria acontecer, fica outra pergunta: por que a televisão faz tudo parecer tã fácil?

É como se em todo o mundo, corriqueiramente, as pessoas praticassem sexo nos elevadores. Dialogariam, depois: - Menina, ontem eu e o Pafuncião fizemos amor num elevador panorâmico.
- Jura?!? Me conta, vai.

Ou então: - Bicho, ontem a Crenivelsa me fez um boquete na frente do povão, no panorâmico lá do shopping.
- Tê falei que aquela topo tudo, não falei?

Eu, sinceramente, prefiro ficar fedido.

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