24 de mai. de 2005

Português

Não. Este texto não se trata de uma piada de português. Muito embora uma piada, com toda certeza, seria bem mais interessante que qualquer escrito meu.

Piada é cultura popular. Nunca se sabe quem dela é mentor intelectual. Aliás, o termo "mentor intelectual" não é designação segura de um autor de piadas. Piada, segundo o bom e velho Dicionário Aurélio é: [...] 3. Dito engraçado e espirituoso; pilhéria, chiste. 4. Chalaça picante. 5. Picuinha. 6. Conversa fiada; lorota. Já chalaça, segundo o que encontrei no mesmo Aurélio, é: 1. Dito zombeteiro. 2. Gracejo de mau gosto, ou insolente; graçola, chocarrice. 3. Caçoada, troça, zombaria. Não vou continuar com isso, tentando descobrir o que vem a ser chocarrice. Perderia o dia inteiro em indas e vindas no dicionário. Na metade do serviço estarei espirrando.

As definições que os dicionários apresentam são interessantes. Piada, pode ser, então, chalaça picante. E chalaça, por sua vez, é um gracejo de mau gosto ou insolente. Ou seja, piada, segundo o Auréio, é um gracejo insolente picante. Haja palavrão para adequar a piada ao conceito.

Voltando às piadas e a seu mentor intelecutual: inventor de piada não é, a sério, um verdadeiro "mentor intelectual". Pode até ser um "gozador intelectual". Ou então um "besteirento intelectual". Mas normalmente o cidadão que inventa piada o faz tomando uma birita, no meio de uma paquera, enquanto tenta impressionar alguém do sexo oposto (não necessariamente). Ou então o faz em rodas de amigos. Nem precisa tomar birita, pois roda de amigos serve para relato de causos e piadas. Diferente do que ocorre em rodas de amigas. Deixa prá lá esta coisa de diferença comportamental sexual, quando machos ou fêmeas andam em bando. Também este não é assunto deste texto.

Voltando novamente às piadas. Pode ser que o mentor intelectual seja inteligente. Mas inteligência não é requisito para se inventar piada. Aliás, se uma piada for elaborada por um intelectual (no sentido de cientista) provavelmente será sem graça. Piada boa é aquela criada em meio à alegria, ainda que seja a alegria de afogar as mágoas, acompanhado de Baco. Cria-se a piada da própria desgraça, e dela se ri. Brasileiro, aliás, é campeão em rir da própria desgraça - enquanto o governo ri de nossa desgraça. Pergunto: quem é que não conhece piada do dedo faltante do Lula? Ou do bigode do Sarney? Ou do nariz do Fernando Collor? Não é a alegria, afinal, a melhor forma de encarar a vida?

Este texto não se trata de uma piada de português. E também não deveria ser um texto sobre piadas, mas raramente consigo manter a concentração em apenas um assunto. Saiu assim, que assim seja. Ficam para a próxima as meledicências sobre aqueles que maltratam a língua escrita. Este, afinal, deveria ser o texto sobre português.
Por falar nisso, conhece aquela do Joaquim?

2 comentários:

Anônimo disse...

Hahaha, seu moita danado, só agora eu descobri o link! É você mesmo, Ricardo?
Sabe que eu sempre quis saber quem inventa as piadas? Não o chiste espontâneo, de mesa de bar, mas aquela piada clássica, estruturada, com início, meio e fim... as de loura, de português... a ironia maior é que o inventor da piada faz todo mundo rir e não ganha um centavo com isso. Ou seja, confirmando a máxima de que quem ri por último, ri melhor, quem ri primeiro é o grande otário!

Beijos e sucesso no bailão. Eu virei sempre, arrastar pé e balançar o esqueleto.

Maranhão disse...

Seja bem vinda Christiana. Sinta-se à vontade.
***
O Bailão anda pouco movimentado. Mas isto só até cair no gosto do povo. Sabe como estes empreendimentos comerciais são.

Abraços