16 de mai. de 2005

Passeatas

Sentado numa mesa gigantesca, fazia prova de espanhol. Se tratou da primeira etapa de um teste seletivo de pós-graduação.

Os candidatos foram dispostos frente a frente, numa mesa quadrada enorme. A serventia do móvel, certamente está ligada às aulas ministradas naquela sala. Mas a mesa é realmente grande. Estava sentado no canto da mesa, perto da porta. Afora as entradas e saídas dos Professores Bancas, nada atrapalhava a realização da prova. O silêncio reinava absoluto. Era possível ouvir passarinhos cantando e o burburinho dos estudantes da universidade.

"PREFEITO SAFADO! PREFEITO SAFADO!"

Após recuperar-me do susto, amaldiçoei até a quarta geração do cidadão que gritava a plenos pulmões no microfone. Não fazia a mínima idéia do motivo da manifestação até ler o jornal, no sábado. Naquele momento, entretanto, tentava pensar na prova de espanhol.

"ABAIXO O PREFEITO!"

Após certo tempo, o povão começou a acompanhar aquele e outros gritos de ordem. Tinha um que rimava, mas não é possível lembrar.

A coisa continuava cada vez mais alta, impedindo os candidatos de manter nível de concentração aceitável para realização da prova. Indaguei à Professora Banca:
"- Se o problema é com o prefeito, por que não vão gritar na frente da Prefeitura?"
"- Tudo acontece aqui." Respondeu um dos candidatos.

Não pisava na cidade fazia meses. Nem para passear, nem para estudar. E logo quando resolvo fazer teste eliminatório, surge passeata exatamente embaixo da janela da sala. Só pude terminar a prova quando a massa reivindicante se pôs a marchar pelo centro da cidade.

Para que, afinal, servem as passeatas de hoje em dia? Servidores públicos que reivindicavam aumento imediado de salário. E para isso abandonaram o serviço em plena manhã de sexta-feira. Os alunos de rede pública de ensino foram dispensados. O atendimento da população foi relegado para segunda-feira. Apenas os postos de saúde, segundo os jornais, mantiveram-se abertos.

Por que ninguém faz passeata em finais-de-semana? A resposta de que o prefeito não estar na Prefeitura é inadmissível. É óbvio que pelo menos um dos participantes do movimento sabe onde o prefeito mora. Garanto que o efeito da reivindicação será imediato, caso o prefeito seja impedido de continuar o sono sagrado de domingo. E o serviço público não será prejudicado.

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