28 de jan. de 2013

Tragédia Anunciada

A tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, foi, sem dúvida, exceção aos acidentes que ocorrem em locais de acesso público. Mas a exceção fica restrita a quantidade de pessoas (não "mortos", nem vítimas", como as classificam estatisticamente o Estado e a imprensa).



Quanto a todo o resto, nenhuma exceção: a Boate Kiss cumpriu a regra da irresponsabilidade, válida e vigente em todo o Brasil.



Foram as irregularidades listadas pela imprensa: a) precariedade das instalações que proporcionaram o alastrar das chamas; b) insuficientes saídas de emergência; c) ausência de sinalização das saídas de emergência; d) saídas (principal e de emergência) com difícil acesso; e) não funcionamento dos extintores de incêndio; f) lotação do local para além da capacidade comportada; g) permissão para que uso de sinalizadores pela banda que se apresentava no local (uma observação: sem o devido isolamento da espuma, qualquer curto circuito da fiação causaria o incêndio, portanto, não se pode reputar somente ao "sinalizador" a culpa); e h) despreparo dos seguranças.



Há, ainda, notícia de que o alvará de funcionamento estava vencido, e de que também vencida estava a licença contra incêndios.



A Presidente da República, o Governador do RS, o Prefeito de Santa Maria, RS, e outro monte de aspone's ("assessor de porra nenhuma") solidarizaram-se com os familiares das "vítimas".



O Governador do RS exigiu que até quarta-feira (30.01.2013) se apurem as causas da tragédia. O Prefeito de Santa Maria, RS, afirmou que a fiscalização em casas noturnas é rigorosa.



Agentes do Corpo de Bombeiros apressaram-se em apontar as falhas estruturais e humanas.



A polícia está investigando, e já tomou o depoimento de diversas testemunhas.



E ninguém assumiu a responsabilidade!



O Comandante do Corpo de Bombeiros de Santa Maria, RS, não se entregou para a Polícia, assumindo a responsabilidade pela omissão em fiscalizar o local; por permitir que funcionasse sem isolamento do material inflamável e com extintores que não funcionam.



O Prefeito de Santa Maria, RS, não se entregou para a Polícia, assumindo a responsabilidade pela omissão em fiscalizar o local, e permitir que funcionasse sem a estrutura e o pessoal necessários para oferecer segurança para as pessoas.



O Comandante da Polícia Militar e o Delegado da Polícia Civil, que permitiram o funcionamento do local sem a devida segurança, não se entregaram.



Os engenheiros civil, elétrico e hidráulico que assinaram os projetos certamente ainda não foram presos.



Não é preciso muita imaginação para perceber as razões pelas quais a Boate Kiss funcionava precariamente, sem alvará, sem vistoria do Corpo de Bombeiros, sem respeito às regras de construção civil e sem fiscalização de segurança pela Polícia.



No Brasil da troca de favores, da amizade interesseira, do acerto, da propina, do jeitinho, do financiamento de campanha e da omissão no cumprimento dos deveres e obrigações, já se sabe que nenhuma "autoridade" assumirá a responsabilidade.



A responsabilidade, como em inúmeras outras tragédias brasileiras, cairá exclusivamente sobre os ombros da família e de amigos.



Os proprietários do estabelecimento, caso haja seguro e caso tenham patrimônio ainda não desviado, daqui a muitos e muitos anos indenizarão algumas famílias que resolverem litigar frente o Poder Judiciário.



A lição a tirar do episódio: que familiares e amigos que ocupam algum cargo público ou privado com exercício de autoridade usem-no com honestidade e responsabilidade, pensando nas consequências de suas ações e omissões; que a tragédia não produza somente tristeza, mas que se honre o nome de cada vítima com mudança em nossa própria forma de agir.

2 comentários:

Renata Esser disse...

Onde fica o botão "curtir"?

Maranhão disse...

E agora, como previsto, começou a atuação midiática do PJ e do MP, e o jogo de empurra das otoridades responsáveis.
"É o Brasiu!"