13 de jul. de 2010

Miséria

Palavras de Dostoiévski, postas na boca do personagem Marmieládov, logo no início do romance "Crime e castigo" (Trad. Natália Nunes e Oscar Mendes. Porto Alegre: L&PM, 2008. p. 23):



"- Meu senhor - começou quase com solenidade - a pobreza não é um pecado. Essa é a verdade. Sei também que a embriguez não é nenhuma virtude. Mas a miséria, meu senhor, a miséria... essa sim, essa é pecado. Na pobreza ainda se conserva a nobreza dos sentimentos inatos; na miséria não há nem nunca houve alguém que os conserve. A um homem na miséria quase que o correm à paulada; afungentam-no a vassouradas da companhia dos seus semelhantes para que a ofensa seja ainda maior; e é justo, porque na miséria sou eu o primeiro pronto a ofender a mim mesmo. Por isso bebo. Sim, senhor, há um mês que o senhor Liebiesiatnikov bateu na minha mulher, mas eu não sou a minha mulher! Está percebendo?"



Escrito no século XIX, parece que o livro fez previsão do destino daqueles que, hoje, estão excluídos da sociedade, vale dizer, aqueles que não consomem. Transformar-mo-nos todos em consumidores é o maior indicativo do final da cidadania.

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