16 de mai. de 2006

PCC e a Imprensa

É impossível passar imune às cenas de violência assistidas - repete-se, assistidas - que aconteceram no Estado de São Paulo. Um verdadeiro show de cobertura. Repórteres, câmeras e equipes de produção estavam "em cima" da notícia, no momento em que ocorriam os fatos.

Controlada a onda de rebelião, pelo menos dois canais de televisão aberta realizavam mesas redondas, ao melhor estilo de programas de comentaristsa de futebol, para discutir a questão da violência.

Um dos programas era o do Ratinho - aquele que levou cinco milhões para bendizer o presidente. Difícil assistir mais de trinta segundos de repetição dos preciosos ensinamentos de quem, por muito tempo, foi repórter policial do programa Cadeia. Acostumado que era a dar tapas na cabeça dos presos, Ratinho esbravejava por lei e ordem, por tolerância zero, ao melhor estilo nova iorquino.

O outro programa, que poderia ser menos sofrível, foi o Roda Viva. Com vocação para boas entrevistas, o programa reuniu algumas pessoas com conhecimento de causa, que poderiam - qualquer uma delas - ser entrevistas individualmente. Mas cercou-os de alguns dos mais imbecis cidadãos de que se tem notícia. E o pior, alguns com importantes funções dentro do aparato estatal de combate à criminalidade. Resultado, outro programa abaixo da crítica.

Não que se esteja, aqui, imputando à imprensa culpa pelos acontecimentos. A imprensa é culpada tão somente por propagá-los. Quando as rebeliões pipocaram por todo o Estado de São Paulo, lá se foi a imprensa noticiar. Espalhou a notícia pelo Brasil. Resultado: rebeliões paralelas - no domingo - surgiram em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Paraná, em Minas Gerais e em outros estados. Tanto em presídios, quanto em delegacias.

Seria a solução, portanto, não divulgar acontecimentos desta natureza, como ocorre nos Estados Unidos, por exemplo?

No Brasil?!? Seria a mais absoluta loucura!

A imprensa, por mais nefastas que possam ser as conseqüências da divulgação deste tipo de fato, por mais insegurança e medo que acabe por gerar na população, é o único meio de controle eficaz da ação do Estado.

Sem a divulgação da imprensa, certamente haveriam dezenas de "Carandirus" no Estado de São Paulo. Chacinas aos montes ocorreriam, em vários presídios. Chacinas ocorreriam nas ruas. E, pior, a troca de tiros descontrolada entre polícia e bandidos certamente geraria mais mortes civis.

A completa ausência de controle sobre as ações do Estado (nas esferas federal, estadual e municipal) e o descompasso irremediável em que andam os órgãos de Segurança Pública, o Poder Judiciário e o Ministério Público, autoriza a cada um destes órgãos, arbitrariamente, a fazer o que bem entende, no momento e forma que quer.

A imprensa tem sido, em meio a esta balbúrdia, o único meio de controle da ação do Estado. Por isso, sopesando os riscos de noticiar ou calar, é preferível optar pela notícia, ainda que a população permaneça amedrontada.

Ao mesmo tempo, por outro lado, deve-se evitar que, com a notícia, se acabe por gerar na população um anseio (que pode virar clamor) da necessidade de uma caça às bruxas. Aí, ter-se-á a imprensa alimentando o arbítrio e o desmando do Estado.

Abítrio e desmando, não custa lembrar, combinam com ditaduta. Esta mesma, tão desejada pela corja stalinista que domina o executivo nacional.

3 comentários:

Marco Aurélio disse...

Maranhão

Estou cheio de ouvir a frase pessimista e lugar comum:

“Tudo vai acabar em Pizza”

Até numa situação séria como essa dos ataques do PCC não deixamos de ouvi-la.

Hoje dei uma sugestão de receita de pizza. Se puder, dê uma olhada.

Um abraço

Marco Aurélio

Anônimo disse...

Ricardo: muda o título da novela, mas os personagens não. Já faz uma dezena de anos. Tem hora que é melhor ser alienada, ou ver um pouco e pensar em coisas boas, senão vou ter que fazer a mala e me mudar. Difícil vai ser escolher um lugar onde não tenha disso. E o que se vê é só a ponta do iceberg.
Abração e bom retorno.

Maranhão disse...

Marco

O problema é que a pizza, neste caso, é assada na sociedade, metida num forno de alta pressão.

Quanto à receita, vou testar final de semana.

***

Clarice

Nesta situação, somos nós, ainda que alienados, que estamos na linha de fogo - literalmente.

Abraços.