9 de out. de 2005

Não!

Este texto faz parte do ótimo projeto de blogagem coletiva Nós na Rede.


Alguém, antes deste referendo, cogitva proibir o comércio de armas?

Esta é a primeira pergunta que se deve enfrentar. A proibição do comércio de armas nunca foi discutido com a sociedade antes. Note-se - e se alerta desde já, para que não hajam acusações de má-fé - o assunto é a proibição do comércio de armas, não a restrição à posse ou porte.

A restrição à posse ou ao porte de armas sempre foi tema objeto de debate. Discussão presente no cotidiano, desde os meios acadêmicos, passando pelo meio político, para chegar aos programas sensacionalistas. Todos dão seu pitaco sobre o tema. Basta alguém famoso ser vítima de assalto ou homicídio, e lá estão Ratinhos, Márcias, Hebes e tantos outros mostrando indignação e clamando justiça.

Aliás, neste mesmo espaço já mencionei que a formação intelectual do brasileiro, como regra, passa necessariamente pela audiência a tais formadores de opinião. E aí já viu...

A proibição do comércio de armas é debate novo. No Brasil nunca houve, ao menos em tempos de lembrança possível, séria e difundida discussão desta natureza. O tema, portanto, choca, gera desconfiança e divide opiniões.

Mas nem por isso deve-se deixar de discutir. Afinal, dentro em pouco, cada eleitor brasileiro deverá dirigir-se até a respectiva zona eleitoral, sacar o título do bolso e apertar o botão, para depositar seu voto eletrônico.

Ao debate, então.

Pelo sim; pelo não; nunca se viu tantas estatísticas. A se pautar pela novidade da discussão, de se perguntar: serão honestas e verdadeiras? Quer parecer que não.

A manipulação dos números sempre foi algo perigoso na mão de especialistas de marketing. Neste referendo a coisa não é diferente. Pausa: alguém sabe quanto isto está custando aos cofres públicos? Será que Marcos Valério e a SMP&B participaram da licitação para organizar as campanhas? E o Duda Mendonça, seria a favor da descriminalização da briga de galo?

Voltando às estatísticas. Desconfie de qualquer texto que lide com estatísticas. Nenhuma é séria, simplesmente porque é impossível, em tão pouco tempo, elaborar estatísticas e pesquisas de opinião popular, que valham queimar as pestanas por elas. A turma leva-se pela emoção do momento, e tal qual torcida organizada, sai gritando: SIM! SIM! SIM! Ou NÃO! NÃO! NÃO! E quando a massa de manobra política - leia-se a turba, o povão - entra em campanha, está perdido qualquer foco de razão.

Aqui, caro leitor, não se encontrará nenhuma menção à estatística de qualquer espécie.

Desde logo deve-se deixar claro que o texto é pró-não. E vão aí os porquês.

O grande motivo pelo não desarmamento é bem conhecido. Os bandidos de verdade, os meliantes, os fora-da-lei, os caras maus enfim, não vão entregar suas armas. Sapientes de que a população está desarmada, os bandidos agirão com mais liberdade, e o crime graçará, ainda mais.

Não haverá mais a dúvida: "será que ao entrar nesta ou naquela casa, poderei me deparar com um cidadão armado"? Com a proibição, o cidadão terá que enfrentar o bandido de faca em punho. E aí, quem tem coragem?

Desarmar a população exige comprometimento com a segurança pública. E o governo, de um modo geral, não demonstra nem um pouco este comprometimento. Com também não se vislumbra nenhuma vontade de passar a demonstrá-lo. Outra pausa: como é que o poder público vai demonstrar comprometimento com o combate ao crime, se os maiores criminosos fazem parte do poder público? Ou alguém conhece algum assaltante de banco, ou mesmo chefão do narcotráfego da favela, que conseguiu tanto lucro quanto a quadrilha de Zé Dirceu, Kid Delúbio, M. V., Bob Jeff e companhia? Para estes, quanto pior a polícia, melhor.

Outro argumento bem conhecido é o da preservação do direito a autodefesa. Mesmo que o Brasil tivesse a polícia mais eficiente do mundo, ainda assim o cidadão tem direito a autodefesa. Se um bandido invade a casa do cidadão - ou tenta invadir -, no mais das vezes sequer há tempo de telefonar para a polícia. Recorre-se à autodefesa que, inclusive, é causa de exclusão do crime. Certamente o leitor sabe que a legítima defesa, inclusive quando causa a morte do ofensor, não é punida.

Agora, o principal arumento, quer parecer, não é nenhum dos dois acima. É argumento ainda não explorado pela turma do NÃO. Ocorre que a turma do SIM anda espalhando por aí, que a continuidade da venda de armas irá gerar aumento da criminalidade, aumento de homicídios e que ninguém mais poderá sair na rua, pois será constante o risco de uma bala perdida. Fazem parecer que, a ser preservado o comércio de armas, instaurar-se-á guerra civil.

Querem enganar a quem?!? O atual estatuto do desarmamento fixou regras tão rígidas para a aquisição de arma de fogo, que raramente alguém consegue comprá-la. Além disso, o preço para manter a arma também é alto. E o registro deve ser renovado a cada triênio. Não é qualquer um que irá comprar arma de fogo. A princípio, quem necessita e tem disponibilidade financeira poderá adquirir arma de fogo. Assim, é possível caminhar tranqüilo pela rua, sem risco de levar uma bala na testa.

Além disso, há um outro argumento muito interessante: a arma não dispara sozinha. Sempre haverá alguém para puxar o gatilho.

Então, qual a justificativa para gastar dinheiro público com esta campanha, ao invés de gastar em educação para o povo?

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