12 de set. de 2005

Ex-petáculo

No Brasil, tudo funciona na base do espetáculo. Se o governo não dá o circo, limitando-se - mal-e-mal - ao pão, daquele a mídia se encarrega.

Tantos são os exemplos de interferência direta da mídia - televisão, principalmente - nos atos de governo (em qualquer dos três poderes, e em qualquer das esferas e escalões destes), que é impossível não perguntar-se: para quê estão lá os governantes?

Não que a mídia seja a única responsável pela ingerência generalizada dos escalões governamentais. Afinal, se fiscalização (pouca) há, deve-se à imprensa. E gente sem-vergonha, malandra, safada, corrupta e, por que não, larápia, encontram-se aos cântaros nos três poderes. Não é este o enfoque do texto.

A mídia é, associada a anos de sucateamento de escolas e faculdades, responsável pela completa, absoluta e vergonhosa apatia da população, referente aos assuntos do poder. Anos e anos de novelas, xuxas, angélicas, silvios santos, anas marias bragas, gugus, faustãos, ratinhos, datenas (a lista, se for completada, tomará todo o espaço que o servidos destina ao blogue) e jornalismo autofágico (caras, isto é gente, fantástico, etc.) formaram uma população absolutamente alienada. No pior sentido da expressão, pois quando se verifica a capacidade crítica da população brasileira percebe-se que ali, é nada.

Esta interferência da mídia sempre existiu. Mas começou a ter maior repercussão (péssima, por sinal) com a morte da fulana atriz de novela, filha de atriz de novela (não perguntem-me o nome, por favor), assassinada por ator de novela. Eram namoradinhos, eu acho (na época devem ter saída na caras). Com campanha da rede globo de televisão e demais emissoras, capitaneadas pela chorosa e inconsolável mãe atriz da atriz, o Congresso Nacional remexeu-se nas cadeiras para aprovar a lei de crimes hediondos. Pausa: alguém conhece um crime mais crime que outros? Estes são os tais crimes hediondos. Até hoje não consegui conceber o conceito. Que dirá parir.

Depois vieram, também na novela, as denúncias dos problemas com drogas. E a cavalo também veio outra lei, que põe na cadeia, sem direito de liberdade provisória, qualquer coitado que tenha cem gramas de maconha para fumar.

A bola da vez foi a aprovação da lei que garante aos cegos a utilização de cão guia, mesmo no interior de estabelecimentos públicos. Lei, é certo, motivada pelo cegueta da novela.

Outra pausa: será que antes das tragédias televionadas ou criadas especialmente para a televisão, não havia assassinato, tráfego e uso de drogas, arrombamentos, furtos, estupros, deficientes físicos, e outros tantos problemas? Se sua resposta for não, que não havia, então abaixo as novelas.

Comoção social, no Brasil, só se vier acompanhada de galã, atriz bem maquiada e fundo musical. Enquanto isso, a população continua chutando mendigos pelas ruas; fechando o vidro para crianças do sinal vermelho; mandando pedinte criar vergonha e trabalhar; e vendendo voto em troca de cesta básica, óculos e vale transporte.

A palhaçada da semana foi a prisão de Paulo Maluf e filho. Helicóptero, algemas, correria, flashes ao vivo, invasão de cela e estupro da privacidade.

Portanto, luz, câmera, ação.

Ou, como dizem no início de cada sessão das CPI's: respeitável público...

2 comentários:

Anônimo disse...

Não faz muito tempo eu argumentei com Maria Helena Nóvoa sobre essa responsabilidade. A da mídia. A que elege um assunto e nos enche até o gargalo com ele. Depois outro com a mesma indecifrável intenção.
No final, quem faz a história é a mídia. Nós só ficamos sabendo o que interessa à mídia, o que é patrocinado para que a mídia divulgue.
Este é um dos motivos, como eu afirmei para Maria Helena, que me leva a não ler jornais e a só ver noticiários para não ser totalmente alienada-já basta eu ter-me isolado nesta canto da ilha!- e a só acreditar em menos de vinte por cento do que ouço e vejo.
Mudando e assunto: o que aconteceu com aquele teu bravo time, hein? Brincadeirinha!
Abraço.

Maranhão disse...

Clarice

O pior é a incapacidade da população, que se deixa influenciar pela mídia. Se fossem jornais, vá lá. Mas o negócio e programa de TV, daqueles bem sem-vergonha mesmo.

Já o time está em férias, acho.

Abraço.