22 de ago. de 2006

Eleições

Sempre que é tempo de eleições lembro-me da música "A Banda", de Chico Buarque. Não que seja fã do cantor. Mas a música se encaixa perfeitamente no período de camapanha eleitoral.

O transe coletivo em que a população é posta produz efeitos como os narrados pela música. A moça feia acha-se linda, e imagina que a banda toca para ela. E o velho fraco sai para dançar no terraço, pensando-se moço. Por aí vai...

Em tempos de reeleição, herdada de FHC, e à qual agarram-se os petistas com unhas e dentes, tudo parece ir às mil maravilhas. E, se não vai, é porque outros ainda não foram eleitos. Quando forem, tudo estará bem.

A onda de otimismo que toma conta do País se assemelha à cidade que enfeita-se, para ver a banda passar.

O nível baixíssimo da campanha, que em tom de festa propositadamente esquece discussões sérias, atinge em cheio o baixíssimo nível de instrução da população em geral. Tudo parece virar uma grande orgia monetária. Os problemas todos resolvidos. Os males todos curados. E os obstáculos todos superados.

Enquanto isso, por debaixo dos panos, grandes financiadores de campanha aproveitam-se do desespero político de manter o foro privilegiado - além de outros privilégios - e costuram acordos que só irão beneficiar bancos, e outros agentes financeiros.

E aqueles, os que devem e continuarão devendo, vítimas de doze anos de proteção a bancos e grandes corporações, deixam-se levar pela onde de otimismo, pela crença de que, com o novo governo, tudo será melhor.

Outros ainda, vítimas de doze anos de diminuição da economia, ausência de investimento em produção e aumento de investimento especulativo, acreditam que terão emprego, saúde, escola e, pasme-se, até mesmo casa própria.

Mas este tempo termina. Em outubro a banda passa, e o programa eleitoral finda. Os gingles de campanha são esquecidos, os adesivos jogados no lixo, e as camisetas - agora proibidas - viram roupa de dormir ou de fazer faxina em casa.

Quando o banda passa, tudo retoma o devido lugar, sem que se perceba que tudo jamais mudou de lugar. A névoa eleitoral que atrapalha a visão se dissipa, e por mais quatro anos, cada qual no seu canto, volta para sua dor.